Maquiavel e a pré-campanha

FELIPE FERREIRA LIMA
Cadastrado por
FELIPE FERREIRA LIMA
Publicado em 23/09/2020 às 2:00
Leitura:

Há cerca de 500 anos, Nicolau Maquiavel traçou, na emblemática obra "O Príncipe", lições sobre a arte de se relacionar com o poder que até hoje refletem a realidade política mundial.

O clássico duelo "posição x oposição" continua revelando as movimentações sacramentadas pelo escritor florentino, ainda no século XVI.

No modelo eleitoral adotado pelo Brasil, a pré-campanha parece ser o momento de maior percepção do que podemos chamar de 'lições maquiavélicas'.

Pois é justamente por entre as cotoveladas das lideranças, que se revela o real potencial das candidaturas que buscam encabeçar as alternativas de destino da sociedade.

Nesse período, a imagem, o discurso e até os serviços já prestados pelo pré-candidato não têm peso significativo para o garantir como postulante oficial. São meros acessórios do atributo principal: a capacidade de aglutinação. Aquele que necessariamente não tem capacidade para unir forças políticas em torno do seu nome, é um 'príncipe' sem futuro.

Nas eleições municipais, o desafio de aglutinar é o mesmo. De um lado, os governantes se movimentam no sentido de, através da força da máquina pública, reunir a maior quantidade de partidos para garantir influência política, tempo de propaganda (tv/rádio) e estrutura econômica.

Do outro, a oposição busca acertar a estratégia mais eficiente para reunir forças que dificultem a ida de partidos e diminua a influência daqueles que têm a 'máquina na mão'.

Nesse cenário, o líder solitário, que não tem perfil ou perspicácia para aglutinar, recebe uma espécie de "Certidão Prévia de Fracasso" e é fadado a duas únicas alternativas de destinos: 1) retirar a candidatura e evitar a probabilidade de desgaste político, ou 2) insistir em ser candidato confiando nas remotas chances de vitória e nos ganhos políticos que uma provável derrota possa gerar.

É através desse balanço de destinos que a mensagem de Maquiavel aos propensos líderes permanece viva. É preciso que tenham a humildade para tirar lições da pré-campanha, que não devem ser só numéricas, mas, sobretudo, de reflexão pessoal sobre o futuro.

Felipe Ferreira Lima, mestre em Ciências Jurídico-políticas pela Universidade de Lisboa, advogado, Professor Universitário e Presidente do Instituto Egídio Ferreira Lima

Comentários

Últimas notícias