Poucas pessoas, mesmo no meio jurídico, conseguem enxergar os benefícios da mediação privada. Vários têm o juízo de valor turvado pelo desconhecimento e pelo preconceito. Em um Judiciário cada dia mais caro e ineficiente, os litígios podem verdadeiramente ser evitados ou resolvidos com a atuação de um mediador qualificado e imparcial que, mediante a utilização de um vasto acervo de técnicas não jurídicas (que envolvem, inclusive, a psicologia comportamental), conduza as partes a uma solução consensual.
A mediação, enquanto equivalente jurisdicional, é particularmente recomendável nas divergências exsurgentes de relações mais duradouras, como as familiares, as societárias e algumas contratuais. É bastante comum que, nelas, as partes não consigam, sozinhas, compreender a verdadeira motivação ou enxergar caminhos para p6r termos aos conflitos.
É o caso da ex-noiva que judicializou um pedido de indenização contra o ex-noivo pelo casamento por ele desfeito às vésperas. Achava-se vítima de desprezo e de desconsideração. Na sessão, conduzida pelo mediador, pode ouvir do interlocutor que a difícil decisão de cancelar o matrimônio foi algo feito também no interesse dela, já que o divórcio seria inevitável e iminente. Não havia mais amor. O pedido de desculpas extinguiu a contenda. São amigos até hoje.
Há incontáveis casos litígios são perpetuados pelo desejo inconsciente na manutenção de vínculos com a parte adversa, o que é usual nos divórcios. A atuação de um mediador, promovendo o entendimento e o diálogo, oportuniza a percepção de nuances que podem ser determinantes para o alcance de solução consensual.
O fato é que o Judiciário assoberbado traz respostas impositivas que são sempre demoradas e traumáticas, ensejando rupturas. Um ganha e o outro perde. Incentivar a mediação é contribuir para a preservação das relações e para a verdadeira pacificação social. O grande desafio é o ajuste do "mindset" de gerações de advogados que foram forjados para a disputa e direcionados à litigância.
Ronnie Duarte, advogado
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