opinião

Seca secular que a gente não entende

"Não entendo como continua tudo seco na fazenda Irapuru, município de Tangará, no Rio Grande do Norte, a cerca de 90km do litoral. E por que o reservatório de Botafogo, em Igarassu, a quase 60km da praia, também não recebe água quando chove no litoral e na maioria da Zona da Mata e do Agreste". Leia a opinião de Arthur Carvalho

Arthur Carvalho
Cadastrado por
Arthur Carvalho
Publicado em 03/02/2021 às 9:00
Bobby Fabisak / JC Imagem
Barragem de Botafogo. O reservatório atende Olinda, Paulista, Igarassu e Abreu e Lima - FOTO: Bobby Fabisak / JC Imagem
Leitura:

Com o passar da idade, vamos colecionando nossas manias. Se sempre gostei de história e geografia, e nunca abracei as ciências exatas, feito matemática, química e física, isso tudo vai melhorando com o tempo, como o sal na feijoada dormida de um dia para o outro. Aquela feijoada do sábado, que, no domingo, está mais gostosa ainda, porque apurou o tempero.

Gosto de examinar o mapa mundi, estendido e aberto sobre a mesa, para localizar um país qualquer e saber se ele está no continente americano, na Europa, na Ásia, na África ou na Oceania. Procuro saber onde o Rio Amazonas nasce, seu extenso, quilométrico e caudaloso percurso, e quantas cidades importantes ele banha. Lembro que, no tempo dos Itas, vapores da Companhia de Navegação Costeira partiam de Manaus, escalando em Parintins, Óbidos e Santarém, até chegar em Belém do Pará. De Belém, eles desciam pela costa brasileira, atracando em todas as capitais, para pegar passageiro e carga até Porto Alegre. Sempre sonhei fazer esta viagem, mas não deu porque não existem mais os Itas (Itaimbé, Itahité, Itaquicé, Itanagé e Itapagé, de saudosa memória) - e meus cabelos já estão prateados. Ainda quero descer o Amazonas, de Manaus até Belém do Grão Pará. E rever Salvador, Ouro Preto, São João del-Rei, Diamantina, Sabará e Rio de Janeiro - se a Covid-19 permitir.

Interesso-me, também, pelos mistérios do tempo e da meteorologia. A maioria das barragens e açudes de Pernambuco está secando. O São Francisco, há anos consecutivos, em situação difícil, sempre com os mesmos problemas. Dizem que Jucazinho, importante reservatório do Estado, situado em Surubim, está com menos de 50% do seu nível. De Bonito também. E outras do Sertão e do Agreste estão em perigo. Quando a vegetação renasce com as chuvas, cobre-se de verde, e a asa branca, o galo de campina, o sabiá, o curió e os canários voltam a cantar e construir seus ninhos nas árvores e pés de pau. Mas as chuvas estão escassas.

Toda essa preliminar é para confessar minha profunda ignorância no assunto. Não entendo como continua tudo seco na fazenda Irapuru, município de Tangará, no Rio Grande do Norte, a cerca de 90km do litoral. E por que o reservatório de Botafogo, em Igarassu, a quase 60km da praia, também não recebe água quando chove no litoral e na maioria da Zona da Mata e do Agreste. E pensar que, no Recife, tem chovido todo dia e, quando Botafogo está quase seco, Olinda sofre muito. P.S.: Tarcísio Pereira deixando saudade.

Arthur Carvalho, da Sociedade dos Amigos da Marinha - SOAMAR

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

Comentários

Últimas notícias