ARTIGO

Ódio institucionalizado

"Na era da (des)informação em rede onde a internet, segundo Umberto Eco, deu voz aos idiotas, de repente os brasileiros se viram divididos entre corruptos e parasitas, do lado esquerdo, e fascistas e misóginos, do lado direito, classificados por odiosos rótulos que não poupam sequer os centrados". Leia a opinião de Pedro Henrique Reynaldo Alves

Pedro Henrique Reynaldo Alves
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Pedro Henrique Reynaldo Alves
Publicado em 20/02/2021 às 6:06
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Olhando o retrovisor da história recente, recordo que no ocaso do governo Dilma o establishment passou a adotar a perigosa estratégia de pregar a cizânia, numa tentativa vã de deslegitimar o processo político-jurídico de impedimento da sua líder. O discurso dos ricos contra pobres, empresários contra empregados etc., fez chocar o ovo da serpente que hoje ameaça nossa ordem social. Naquele tempo, faltou temperança aos políticos para atuarem dentro das regras institucionais e a radicalização fez com que assistíssemos autoridades sendo agredidas moral e fisicamente em público, julgadas de forma instantânea pelos tribunais das redes sociais.

Com a eleição de ferrenho opositor do governo impedido, no lugar do esperado discurso de união e da postura magnânima de líder, vimos um dantesco espetáculo de mediocridade verborrágica, com agressões e deboches contra os que não se aliaram ao bolsonarismo nascente, num consciente incremento da polarização como forma de manter ou ampliar apoio popular, mesmo às custas da paz nas relações sociais e institucionais.

Na era da (des)informação em rede onde a internet, segundo Umberto Eco, deu voz aos idiotas, de repente os brasileiros se viram divididos entre corruptos e parasitas, do lado esquerdo, e fascistas e misóginos, do lado direito, classificados por odiosos rótulos que não poupam sequer os centrados, tidos por isentões e omissos, tornando estéril o ambiente para o debate plural de ideias, que é fermento e argamassa de uma democracia.

Tal fenômeno, que não se vê apenas no Brasil, se mostra mais ameaçador na medida da falta de apreço dos indivíduos por suas instituições de Estado, como a justiça, o parlamento e os governos, que mesmo sendo imperfeitas, já que formadas por seres humanos, constituem uma promessa de estabilidade social e alternância de poder, elementos essenciais para o desenvolvimento de uma nação e que por isso precisam ser preservadas.

Pedro Henrique Reynaldo Alves, advogado e ex-presidente da OAB/PE.

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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