ARTIGO

O fura-fila

"Furar fila de bilheteria de cinema, teatro, circo e jogo de futebol é uma coisa, o chamado delito de pequena monta, mas furar fila de vacinação é crime grave". Leia a opinião de Arthur Carvalho

Arthur Carvalho
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Arthur Carvalho
Publicado em 22/02/2021 às 6:07
ILUSTRATIVA/KAZUHIRO NOGI/AFP
Grupo é suspeito de oferecer fraudulentamente, ao Ministério da Saúde, 200 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 - FOTO: ILUSTRATIVA/KAZUHIRO NOGI/AFP
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O fura-fila é, antes de tudo, um misto de canalha, mau-caráter e cafajeste - hoje classificado como sociopata. Há crimes e crimes. Alguns revestem-se aparentemente do manto hipócrita do simples e inofensivo delito, sujeito a penas leves e transitórias, quando, na verdade, são crimes hediondos. Um marginal que fura fila de vacina, numa pandemia como essa, poderá estar decretando a morte de centenas de pessoas que, pela idade ou atividade profissional que exercem, estão sendo preteridas. Furar fila de bilheteria de cinema, teatro, circo e jogo de futebol é uma coisa, o chamado delito de pequena monta, mas furar fila de vacinação é crime grave - pelas suas nefastas consequências. Quem pratica esse crime demonstra insensibilidade social e não é digno de viver em sociedade. Tem que pegar sentença pesada. O crime é mais grave quando cometido pelas chamadas autoridades competentes, merecendo a sanção ser acrescida da figura de agravante prevista no Código Penal e no Código de Processo Penal.

O hábito comum de furar fila está inserido no DNA do capadócio brasileiro e no costume do furto de pequenas coisas praticado por indivíduos abastados - está no seu sangue e na nossa cultura. As notícias falsas praticadas por energúmenos de mente doentia e perversa, que dominam as redes sociais, e o simples trote chamando o corpo de bombeiros e o SAMU, confundidos com simples e inocentes brincadeiras, são crimes perversos - pelos males que eles causam. O crime avançou e se aperfeiçoou cada vez mais com o progresso da tecnologia, suplantando os recursos legais, vencendo o mal a luta contra o bem. Soltar balões gigantescos e empinar papagaio com linha de cerol são "esportes" criminosos que merecem punição drástica e específica - pelo potencial de alta periculosidade a eles inerente. Estão esperando que um avião caia, com trezentos passageiros, em colisão com um balão? E que centenas de motoqueiros continuem sendo degolados pelas linhas "temperadas"?

O fabricante de balão deve sofrer a mesma penalidade de quem o solta. Não adianta prender quem empina pipa com cerol. Primeiro, porque é difícil flagrar o empinador. Segundo, porque, geralmente, o empinador é de menor e não poderá ser preso. Tem que haver uma fiscalização rigorosa nas lojas que vendem o cerol - daí a necessidade de legislação própria pertinente à matéria, não para soltar bandido, como aconteceu com André do Rap, mas para coibir sua comercialização, cortando o mal pela raiz. Essas emendas são feitas pelo Congresso, isto é, não serão feitas.

Arthur Carvalho - Academia Pernambucana de Letras Jurídicas

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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