ARTIGO

O Brasil tem potencial desperdiçado

"Mudanças urgentes - neste país - se arrastam tanto no estado do 'urge', que sempre se comete o pecado de repetir o óbvio ao tratar de pendências". Leia a opinião de Tarcisio Patricio

Tarcisio Patricio
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Tarcisio Patricio
Publicado em 02/03/2021 às 6:04
ARQUIVO/AGÊNCIA BRASIL
"Não se vislumbra uma Nação no rumo certo" - FOTO: ARQUIVO/AGÊNCIA BRASIL
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Mudanças urgentes - neste país - se arrastam tanto no estado do "urge", que sempre se comete o pecado de repetir o óbvio ao tratar de pendências. Como falar de tragédia em educação e saúde, desigualdade, miséria, violência e mortes por 'bala perdida', e baixo padrão da política, por exemplo, sem repetir algumas obviedades? Bom é quando algum fato novo mostra que a sociedade está viva, e exemplos há; mas é sempre pouco, porque não se vislumbra uma Nação no rumo certo. Por outra via, correr o risco de redundar - sem exagero na dose - traz o benefício de se manter fresca a memória, difícil exercício em um país cuja frequência de escândalos e absurdos traz entorpecimento mental. Para tal esforço, ter perspectiva histórica é sempre útil.

Em 1980, o Brasil cresceu a 9,2% e inflação a 110%. Encerrada a era de quase 50 anos de crescimento, viria o padrão "voo de galinha". O país passa a patinar na estrada da reconstrução institucional. O manto da inflação concentrava as preocupações do "país do futuro", encobrindo mazelas (em educação, habitação, saneamento) e indecente desigualdade social. Correção monetária era o anestésico. Redemocratização no topo da luta institucional, nova Constituição, eleições diretas. Retoma-se a "estrada do futuro". O mundo: crise econômica, com alternados períodos de bonança. E crises geopolíticas permanecem, finda a Guerra Fria. A China, ponto fora da curva, inaugurava a era de quase 40 anos de crescimento sustentado, desde 1978-79, graças a mudança de paradigma - do planejamento centralizado para o modo de introdução de regras de mercado e absorção de capital externo, mantido o governo mão de ferro. E a revolução microeletrônica, que operou mudanças em escala global, trouxe armadilhas que ameaçam a democracia. É neste contexto global que se insere o Brasil, agora - por vias tortas - perdendo respeitabilidade internacional. O país tem potencial desperdiçado, em boa parte pelo mirrado apetite por mudanças institucionais pró-crescimento e redutoras de desigualdade. "Ai, que preguiça." E que sina: o Brasil fecha 40 anos de crescimento claudicante, sob desgoverno batedor de recordes de indecência. Agora, convenientemente agregando gregos, troianos e respectivos assemelhados. Indecência aglutinadora, cujo absurdo da vez é a célere articulação da Câmara -frustrada, até agora - para instituir uma PEC (proposta de emenda constitucional) que consagraria a impunidade parlamentar, quaisquer que venham a ser os crimes. Como se isso fosse pouco, com a covid-19 fazendo um ano e recorde diário de mortes, o Presidente faz, publicamente, leviano ataque ao uso de máscaras. Indecência e desdém são eufemismos...

Tarcisio Patricio, economista e professor aposentado da UFPE

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC 

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