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O drama da aprendizagem escolar

"Uma pequena parte da população dorme em berço esplêndido, e a larga maioria fica à espera de um auxílio emergencial para sobreviver. Por isso digo: sem educação não haverá futuro!". Leia a opinião de Mozart Neves Ramos

MOZART NEVES RAMOS
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MOZART NEVES RAMOS
Publicado em 08/03/2021 às 9:00
YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
SEM CONEXÃO Para alunos sem internet ou equipamentos, uma opção é estudar com material impresso - FOTO: YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
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Há duas semanas o instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) apresentou, na plataforma QEdu, os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2019. Esses resultados foram expressos pelo percentual de alunos com aprendizado adequado em língua portuguesa e matemática para o 5° e o 9° ano do Ensino Fundamental (EF) e para o 3° ano do Ensino Médio (EM), em consonância com a meta 3 do movimento Todos pela Educação. O que se chama de "percentual com aprendizado adequado" corresponde ao número de alunos que, em relação ao total, obtiveram um desempenho acima de um determinado número de pontos no Saeb. Por exemplo, para o 5º ano do EF isso corresponde a um desempenho igual ou superior a 200 e 225 pontos em língua portuguesa e matemática, respectivamente. Algo similar também se aplica para o 9º ano do EF e para o 3º ano do EM.

Os dados do Ensino Médio da rede pública de ensino são absolutamente desastrosos, especialmente em matemática. Em Pernambuco, por exemplo, apenas 6% dos alunos terminam a escola com conhecimento adequado em matemática. Esse percentual é de 1% para os estados do Amapá e do Pará, e de 2% para os estados do Rio Grande do Norte e da Bahia.

Quando verificamos o percentual em língua portuguesa, a situação é um pouco melhor, mas nada que nos permita comemorar. Em Pernambuco, 33% aprenderam o que seria esperado ao final do EM nessa disciplina, enquanto no Amapá e no Pará, o percentual é de apenas 17% e 16%, respectivamente.

Mas esse desastre educacional não começa no Ensino Médio; já vem das etapas anteriores, especialmente dos anos finais do EF da rede pública. Por exemplo, quanto ao 9º ano, apenas 16% dos alunos pernambucanos aprenderam o que seria esperado em matemática. Para os estados do Pará e do Amapá, esse percentual corresponde a 5% e 8%, respectivamente. O que dizer?

Nossa preocupação se acentua porque esses percentuais desastrosos se referem ao período no qual as escolas estavam em pleno funcionamento, ou seja, antes da pandemia. Imaginem o que podemos esperar após o fechamento das escolas! Como é do conhecimento de todos, apesar dos esforços das secretarias de Educação, muitos alunos ficaram sem acesso às aulas remotas por falta de conectividade e de condições tecnológicas adequadas para aprender, em termos de internet e banda larga. Enquanto isso, o governo federal tem em caixa cerca de R$ 23 bilhões de reais no Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Tais recursos deveriam em parte ser utilizados para reverter esse quadro dramático da aprendizagem escolar por meio de ensino remoto em tempos de pandemia. O Brasil tem 14,9 milhões de lares sem acesso à internet. São quase 46 milhões de pessoas desconectadas - um quarto da população com mais de 10 anos de idade.

Enquanto isso, uma pequena parte da população dorme em berço esplêndido, e a larga maioria fica à espera de um auxílio emergencial para sobreviver. Por isso digo: sem educação não haverá futuro!

Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP - Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.

*Este artigo é dedicado à minha mãe Miriam Neves Ramos, que hoje completa 87 anos de vida!

 

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