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Formação técnica e inclusão social

"Investir na formação técnica é o caminho para promover inclusão social e reduzir desigualdades". Leia a opinião de Mendonça Filho

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MENDONÇA FILHO

Publicado em 10/04/2021 às 6:14 | Atualizado em 10/04/2021 às 6:38
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Num país onde 52% da população adulta não completou o ensino médio, 60% dos jovens que concluem a educação básica não continuam os estudos porque não têm recursos ou precisam trabalhar e mais de 80% das instituições de educação superior são privadas, investir na formação técnica é o caminho para promover inclusão social e reduzir desigualdades.

Milhões de brasileiros de 15 a 29 anos com baixa escolaridade são "jogados" no mercado de trabalho com baixa renda ou na informalidade. Uma dura realidade que pode mudar, se o país priorizar a educação técnica e profissional, que eleva a escolaridade, impacta na produtividade, no aumento da renda e garante direito à educação e ao trabalho.

O debate sobre o ensino técnico sempre gerou debates intensos e, muitas vezes, ideologizados. Infelizmente a política pública no Brasil nem sempre foca em soluções que efetivamente impactem a qualidade de vida das pessoas. Ao priorizar o ensino médio regular desconectado da formação técnica e profissional, o País seguiu numa direção contrária à tendência internacional e negou para várias gerações de brasileiros uma maior qualificação e melhores oportunidades. Para se ter uma ideia, em média, 43% dos estudantes de ensino médio nos países da OCDE se matriculam em cursos técnicos. No Brasil, apenas 11%.

Em 2017, demos um passo fundamental para inserir o Brasil entre os países que oferecem itinerários formativos diversos e respeitam o protagonismo jovem. Após 20 anos de discussões, a reforma do ensino médio foi entregue ao Brasil pela nossa gestão no Ministério da Educação, permitindo ao jovem projetar seu futuro no ensino superior ou no técnico profissional. No mesmo ano, a Base Nacional Comum Curricular incluiu o quinto itinerário formativo permitindo ampliar a oferta de educação técnica nos estados.

Em processo de implementação, o novo ensino médio e a BNCC deram a estrutura legal e pedagógica para o Brasil deixar de ser um dos países com menor taxa de matrícula no ensino médio de nível técnico. Estudo dos pesquisadores Roberta Biondi (FGV) e Sérgio Firpo (Insper) mostra o impacto positivo na renda de jovens que concluem o ensino técnico no Brasil: ganhos de 8% a 14% maiores.

O profissional qualificado produz mais, aumentando o potencial de crescimento da economia com geração de emprego e renda. O que impacta positivamente nos indicadores sociais. O desafio do Brasil é universalizar o acesso ao ensino médio, reduzir a evasão e elevar a formação técnica e profissional à categoria de direito social.

Mendonça Filho, ex-ministro da Educação

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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