ARTIGO

Notícias falsas pululam desde séculos antes de Cristo

"O pior é que, se nos dias normais seus efeitos são maléficos, em época de pandemia elas podem ser catastróficas e devastadoras. É preciso muito cuidado". Leia o artigo de Arthur Carvalho

Imagem do autor
Cadastrado por

ARTHUR CARVALHO

Publicado em 14/04/2021 às 6:04
Notícia
X

Notícias falsas pululam desde séculos antes de Cristo. E foram atravessando o tempo, incólumes, através dos anos, até atingirem a contemporaneidade, ou seja, até hoje. O pior é que, se nos dias normais seus efeitos são maléficos, em época de pandemia elas podem ser catastróficas e devastadoras. É preciso muito cuidado. Não vou entrar em intrincadas e profundas interpretações filosóficas, metafísicas e sociológicas para tentar desvendar o que leva uma pessoa a ter esse criminoso, mesquinho e misterioso comportamento. Citemos apenas alguns curiosos exemplos, para provar que o hábito é antigo. No romance de memórias Menino de Engenho, escrito em 1932, José Lins do Rego registra, referindo-se aos hábitos e costumes dos engenhos de açúcar da Paraíba de sua época: "(...) tinha porém Neco Paca um defeito. Através dele se fazia uma espécie de correio perigoso. Parava no Outeiro e trazia história da prima Emília inventando mentiras. A minha gente sempre gostou de mexericos. Lembro-me das histórias e das brigas do meu avô com o seu primo carnal do Outeiro, que fora seu cunhado nas primeiras núpcias. As notícias se amiudavam sobre as chuvas. Uns falavam sobre muita água no Piauí. Depois surgiam rebates falsos, o telegrafista do Pilar recebera aviso de cheia muito grande no Cariri. O primo Baltazar de volta da feira de Itabaiana, parava no Corredor para pernoitar. Era o maior leva e traz da família."

"(...) A casa grande no Engenho Novo recebia assim as moças acostumadas com o luxo da grande Capital. E aconteceria um episódio que ficou marcado para sempre nas conversas e mexericos da várzea. A prima Marocas, casada com o Dr. Godói, do Rio, escreveu para a irmã em Recife, uma carta dando as suas impressões sobre a terra e a gente. A agente dos Correios de São Miguel era a prima Nana Lopes. A carta foi aberta. E estava escrita em tais termos que tiraram cópias. A prima Marocas havia escrito um depoimento terrível sobre os parentes. Nana, que não gostava do Dr. Quinca, mandara para este uma cópia. O brabo Dr. Quinca leu os maiores agravos à sua pessoa, com referências desprezíveis à sua casa e não teve dúvida, sacudiu as primas para fora. Vieram elas a se abrigar no Corredor. E o escândalo correu o mundo. Os fuxicos corriam de engenho a engenho."

"(...) Correra, porém, o boato que o casamento não se faria porque o Dr. Quinca, do Engenho Novo, estava se opondo. Um filho de Lola não podia se casar com a filha do José Lins. Tudo não passava de mexerico de Baltazar.". O costume é antigo.

Arthur Carvalho - Associação Brasileira de Imprensa - ABI

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

Tags

Autor