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O presidente e seu labirinto

"Apesar do quadro crítico, não se vislumbra, até aqui, a alternativa de uma terceira via, donde estamos condenados a uma polarização que nos leva de volta ao passado. Mas ainda há tempo." Leia a opinião de Raul Jungmann

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Raul Jungmann

Publicado em 15/04/2021 às 6:09
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Sentado à minha frente no avião da FAB, o deputado sorriu e me respondeu: "Olha, eu fui lá no gabinete de transição do novo governo , apresentei-me e coloquei-me à disposição. Eles agradeceram e me dispensaram, educadamente. Então, eu vou para a Comissão de Relações Exteriores, vou aproveitar pra viajar e, quando eles, mais adiante, lembrarem-se de mim, a gente volta".

O carona em questão é um dos principais líderes da base de apoio do Presidente, influente, frequentador assíduo do Palácio do Planalto e da Alvorada e um provável ministeriável. O que mudou daquele voo para cá? Três foram as mudanças principais. Primeiro, o "presidencialismo de colisão" intentado pelo chefe do executivo para substituir o presidencialismo de coalisão, este com a necessária formação de uma ampla coalisão multipartidária, não deu certo e se mostrou crescentemente inviável

Donde a necessidade de apoiar-se no Centrão, partidos e lideranças que o compõem, aposentando de vez a chamada "antipolítica". Em segundo lugar, tanto o legislativo como o judiciário - leia-se, o Supremo Tribunal Federal -, não se deixaram dobrar à vontade do incubente da presidência, como atestam, recentemente, o imbróglio do orçamento inadministrável e as decisões em cascata do STF, contrárias as pretensões de manter templos e igrejas abertos no auge da pandemia, a imposição da instalação da CPI da Covid e a suspensão dos decretos que ampliavam o derrame de armas e munições nas mãos da população.

Por fim, a recusa das FFAAs em endossar atos e ações do Presidente, o que o levou a ceifar os comandantes militares e o Ministro da Defesa, sem uma única explicação que fosse para tal intervenção e afastamento de profissionais competentes, disciplinados e com décadas de serviços prestados à nação. Para além destes problemas, sobressai-se a pandemia, sem controle nem perspectiva de um fim, tragédia que já ceifou a vida de mais de 350.000 brasileiros e que corrói acidamente a sua popularidade.

l Tempo, porém, que escasseia para os que, premidos pela necessidade, o desemprego e a fome começam a encarar o medo de se por em movimento.

Raul Jungmann, ex-ministro da Reforma Agrária, Defesa e Segurança Pública

 

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