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Vidas de brasileiros importam

"Serão os negacionistas e descuidados inocentados ao final ou comparados aos que empurraram vítimas rumo ao forno de gás?" Leia a opinião de Sérgio Gondim

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SÉRGIO GONDIM

Publicado em 16/04/2021 às 6:16
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Os envolvidos na morte de George Perry Floyd Jr, que despertou tanta indignação no mundo inteiro, estão em julgamento. Floyd não conseguia respirar, anunciou e repetiu onze vezes. Não houve socorro, ao contrário, a pressão continuou por 9 minutos e 29 segundos, até a morte. Analisados todos os detalhes, com direito à ampla defesa, será dado o veredicto: se morreu de morte natural, se estava drogado, se sofreu um infarto ou foi asfixiado.

Na pandemia, muitas mortes são inevitáveis. Resultam da interação particular entre um microrganismo e o corpo humano, após o contágio. Mesmo utilizando todos os recursos que a medicina aprendeu, não é possível deter a tempestade provocada pelo vírus em algumas pessoas. Irão reclamar muitas vezes de falta de ar, implorar por oxigênio, por respirador, pulmão artificial, por medicamentos com ou sem eficácia comprovada e não irão sobreviver. Tem ocorrido todo dia com milhares de pessoas no Brasil e no mundo. Muitos são vítimas da necessidade que a sociedade tem do seu trabalho essencial que os fazem frequentar ônibus lotados ou UTIs Covid também lotadas. Chamá-los de heróis não é consolo suficiente para as famílias.

Outros estão morrendo porque adquiriram o vírus na balada, na aglomeração política ou no templo religioso, quando poderiam praticar a reflexão e a reza isolados, entre quatro paredes. Seria mais produtiva, solidária e, certamente, menos perigosa. Mesmo estando dispostos a morrer por sua fé e convencidos de que só é possível exercê-la nos templos, deveriam refletir se o seu Deus vê com bons olhos o risco de transmitirem o vírus para terceiros, na volta para casa. O problema não reside só em querer arriscar e se expor à doença, mas sim em poder transmitir, a seguir, para o transeunte, para o vizinho, amigo ou familiar.

Será que a história vai julgar as mortes provocadas por esse tipo de contágio como naturais, ou serão consideradas assassinatos? Serão os negacionistas e descuidados inocentados ao final ou comparados aos que empurraram vítimas rumo ao forno de gás? Que papel lhes caberá nos filmes que retratarão esse período da história? Serão os mocinhos ou bandidos? A falta de ar será atribuída exclusivamente ao vírus ou vai ser equiparada a um joelho criminoso aplicado no pescoço de inocentes?

Sérgio Gondim, médico

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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