ARTIGO

O futuro do Centro Paulo Freire

"No ano do centenário de Paulo Freire, talvez fosse aconselhável estar alerta para as "comemorações" que, usando seu nome e sua memória, no fundo terminam por desonrar o seu legado". Leia a opinião de Flávio Brayner

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FLÁVIO BRAYNER

Publicado em 20/04/2021 às 6:09
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No ano do centenário de Paulo Freire, talvez fosse aconselhável estar alerta para as "comemorações" que, usando seu nome e sua memória, no fundo terminam por desonrar o seu legado. Freire, no que se refere à formação do professor, insistiu na distinção entre "educação" e "treinamento": a formação de um professor - que também se pretenda educador- nos centros de educação, exige não apenas fundamentação teórica que justifique e legitime o ato de educar de uma determinada maneira (o "por que" fazer) e saber prático (os problemas reais que ele enfrentará no ato educativo: o "como" fazer).

O problema é que a admissão de um professor numa rede escolar (sobretudo pública) exige o conhecimento das particularidades do sistema (seu projeto, seus métodos, seus recursos, seus mecanismos funcionais etc.), o que vai além da formação inicial. A Rede Municipal do Recife dispõe do CENTRO DE FORMAÇÃO DE EDUCADORES PAULO FREIRE, instituição pensada e executada ao longo de várias administrações, por onde passaram nomes como Edla Soares, Malu Aléssio, Esther Calland, Marileide Costa, Ângela Monteiro, Ednar Carvalho (todos educadores!) e cujo objetivo é responder a questões "simples" como: o que é educar em um contexto específico como o do Recife? De que atributos deve dispor um professor-educador para realizar esta tarefa?

Conversei recentemente com professores e coordenadores daquele Centro que manifestaram sua profunda inquietação com os previsíveis caminhos da atual administração do Sr. Fred Amâncio (finalmente um Secretário do qual lembramos o nome!): o risco palpável de se apagar uma longa história pedagógica e se confundir "inovação" com "novidade", "educação" com "treinamento", "meios" com "fins" bem ao gosto de certa agenda "educacional" que, aliás, se utiliza de termos "progressistas" ('criticidade', 'espírito de equipe', 'problematização', 'cidadania global', 'inteligência analítica') para construir subjetividades mansas e adaptadas! Aqueles professores e coordenadores não pedem muita coisa: apenas a oportunidade de... dialogar com a Administração, esta mesma ação ("DIÁLOGO") que Paulo Freire (que empresta seu nome àquele Centro!) entendia como sendo o esteio da relação pedagógica. Reside, nas iniciativas "inovadoras" de nossas administrações, a crença de que o futuro é apenas o desdobramento necessário de um único aspecto do presente: aquele que elas conseguem enxergar e que agrada aos próprios administradores!

Paulo Freire, Paulo Freire! Até quando abusaremos de tua paciência!

Flávio Brayner, professor da UFPE

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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