ARTIGO

O meio ambiente e a nova economia

"O Acordo do Clima, que Donald Trump tentou destruir e Jair Bolsonaro despreza, definiu as bases para uma economia de baixo carbono que leva a um novo paradigma que viabilize crescimento da economia com conservação ambiental". Leia o artigo de Sérgio C. Buarque

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SÉRGIO C. BUARQUE

Publicado em 29/04/2021 às 6:13 | Atualizado em 30/04/2021 às 2:21
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Ao longo de séculos de expansão, o capitalismo (capitalismo de mercado ou de Estado) tem demonstrado uma correlação direta e perversa entre crescimento econômico e degradação ambiental. A escala alcançada com a emissão de gases de efeito estufa está provocando mudanças climáticas que ameaçam um desastre global. O Acordo do Clima, que Donald Trump tentou destruir e Jair Bolsonaro despreza, definiu as bases para uma economia de baixo carbono que leva a um novo paradigma que viabilize crescimento da economia com conservação ambiental. Utopia? Não.

Entre 1990 e 2018, o PIB da União Europeia cresceu cerca 61%, enquanto as emissões de gases de efeito estufa diminuíram em 23%, demonstrando que "não há nenhum conflito entre uma economia que cresce e a redução de emissões de gases de efeito estufa" (Hans Bruyninckx, diretor da Agência Europeia do Meio Ambiente).

A degradação ambiental persiste e a emissão de gases de efeito estufa continua crescendo. Mas está em curso um movimento global, ainda lento e localizado, de reconversão dos processos produtivos, reorganização nas cidades e redefinição da matriz energética, aproveitando os grandes avanços tecnológicos.

Este movimento ganha força agora quando Joe Biden decidiu fortalecer o Acordo do Clima e realizar investimentos significativos nos Estados Unidos para alcançar metas ambiciosas de redução das emissões: ampliação das pesquisas, suspensão de autorização para novas perfurações e petróleo e gás, corte de subsídios para os combustíveis fósseis e transformação da frota de carros do governo em veículos elétricos. O desafio ainda é muito grande, principalmente se for considerado que um terço da população mundial vive em países com renda domiciliar per capita muito baixa e que, portanto, precisam expandir sua economia. A vantagem é que esses países podem promover o crescimento econômico com base nos novos padrões de produção e de consumo e incorporando as tecnologias avançadas. O Brasil, lamentavelmente, está na contramão desse processo liderado pela Europa e, agora, pelos Estados Unidos.

O discurso enganador de Bolsonaro na Cúpula do Clima não esconde a visão míope de um governo com a cabeça no século XIX, ou mesmo antes do Iluminismo. Com as maiores reservas biológicas e de fontes energéticas limpas do planeta, o Brasil poderia ser um modelo de desenvolvimento sustentável para o mundo, crescendo com base na economia verde e de baixo carbono.

Sérgio C. Buarque, economista

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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