Opinião

Meritocracia não é utopia

"O modelo meritocrático, ao repudiar o favoritismo, permite que todos tenham as mesmas chances de crescimento. É uma energia motivacional realmente". Leia a opinião de Gustavo Henrique de Brito Alves Freire

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Gustavo Henrique de Brito Alves Freire

Publicado em 03/05/2021 às 7:48 | Atualizado em 03/05/2021 às 7:49
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Ambicionar o reconhecimento dos outros sem trabalhar é a mesma coisa que esperar colher sem plantar.
De carona nessa premissa, levantamento divulgado em 2019, compreensivo dos anos de 2010
a 2016, da Fundação Getúlio Vargas apontou que, entre 149 empresas nacionais pesquisadas
no quesito remuneração de seus executivos, as que investiam em modelos de ganhos por cumprimento de metas geravam maior lucratividade mesmo em períodos de crise.

Popularizada em um outro contexto pelo britânico Michael Dunlop Young no ano de 1958, no seu romance “The Rise of Meritocracy”, a palavra “meritocracia” remete à importância do recompensamento do esforço individual. É simples: ascender, subir, progredir, com base na prevalência do merecimento
e não do favoritismo.

O sentido extraído da etimologia latina não deixa dúvidas: enquanto construção teórica da ciência da governança corporativa, ou seja, enquanto modelo de gestão, a meritocracia, ao evocar a junção das elementares “mereo” (merecer, obter) e “cracia” (sistema), propõe o ponto de partida de que todos os concorrentes, estando em uma mesma posição inicial, serão avaliados segundo as suas respectivas
performances, cabendo de maneira exclusiva a cada qual pavimentar o caminho do sucesso no
seu desempenho cotidiano.

François de Rochefoucauld disse em determinada ocasião que “o mundo recompensa com mais frequência a aparência do mérito do que o próprio mérito”. A prática não raras vezes ensina ser isso a mais pura verdade. Significa uma batalha perdida? De forma alguma.

Não se está a falar de uma meritocracia darwinista, que remeta à lei da sobrevivência do mais forte e que promova a exclusão de setores da sociedade em realidades tão desiguais quanto a brasileira. Não se está a defender o que, na essência, poderia induzia ao engodo e à farsa. O que se está a advogar, isto sim, é a valorização de quem se esforça mais e das conquistas de cada um; é a criatividade, o engajamento, a motivação. É prestigiar a produtividade pela recompensa, de modo que a equipe se sinta encorajada a desenvolver melhor suas habilidades e aumentar a eficiência das atividades da organização.
Vicente Falconi, considerado por muitos como sendo a grande autoridade nacional sobre o tema meritocracia, disse em tom de alerta que, no momento em que se beneficia um amigo no ambiente de trabalho em detrimento de outro com conhecimentos mais apurados, as pessoas na equipe que forem
realmente boas vão embora. Falou bobagem? Em absoluto.

O modelo meritocrático, ao repudiar o favoritismo, permite que todos tenham as mesmas chances de crescimento. É uma energia motivacional realmente. Não, não é utopia. É uma cultura organizacional. Um método valorizador do indivíduo.

Nada de experimento ou de improvisação, mas o futuro.

Abracemo-lo, portanto.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire é advogado

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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