INQUIETUDE

O que se passa dentro de um coração ansioso?

Não tenho respostas, nem quero tê-las, opto pelo diálogo do Eu com o Eu.

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FÁTIMA QUINTAS

Publicado em 05/05/2021 às 6:20
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Olho o relógio, vejo as horas se acumularem. Os dias se consomem na solidão de tempos especiais. Carrego tantos sentimentos que acabo por mergulhar em um isolamento de complexa inquietude. Então, resolvo buscar nos livros o aconchego que parece me faltar em alguns momentos.

Leio, releio e vou traçando o mundo a partir da palavra. Cada uma, com seu significado; juntas, demandam um estilo que aconchega o escritor. Busco na literatura o afago que necessito. E assim, percorro veredas pacíficas e exóticas. Há uma estrada de segredos e sigilos.

Vou à varanda apreciar a ventania da natureza. Os cabelos se revolvem, deixo que a face receba o vento necessário. Os olhos apreciam o mundo externo. O que se passa dentro de um coração ansioso? Convivo com todas as emoções, nenhuma se distancia da ansiedade interior. Habitam-me os ecos do silêncio. Mas, não só. Os mistérios se somam em uma única sensação. Converso comigo mesma, debruço-me sobre complexas interioridades, sou um poço de intensas indagações. Não tenho respostas, nem quero tê-las, opto pelo diálogo do Eu com o Eu.

Nada me parece estranho, ainda que os cenários pouco se modifiquem. Há uma constância que acalma e aflige. Não me retraio, ouso entender o que quero e o que não quero. Respiro fundo, a obscuridade do cenário permite tantas ilações que acabo me perdendo em opostas perspectivas: a inquietude e a calmaria...

Estou sempre indo e vindo, o que aumenta os desejos e os prolifera sem medida. Os sussurros se misturam ao conjunto dos delírios acumulados. Nada mais aliciante do que lidar com opostos Encanta-me a variedade do refletir e avanço sem limites nas diversas fronteiras que me cercam. Jamais fui exígua e tenho certeza que cada amanhecer dilata a alma. Não importa. Acodem-me impulsos significativos. Há tantos mistérios ao redor que aceito a pluralidade que me habita. As conexões me encantam; assim, dilato-me para além de tudo que eu possa imaginar.

Quanto espanto e quanta placidez! Caminhos se cruzam. Estarei sempre disposta a acatar os próprios êxtases. Quem disse que sou una? Há uma vivência explosiva, quase a dilacerar-me tanto quanto a apaziguar as angústias que me sacolejam. Não me perguntem nada, apenas abracem-me no retraído momento que me invade.

Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras

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