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O craque culpado injustamente

Ele não é o culpado pela trágica derrota do Brasil para o Uruguai, por 2 x 1, no Maracanã com duzentos mil torcedores

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ARTHUR CARVALHO

Publicado em 12/05/2021 às 6:00
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Vi Barbosa, pela primeira vez, jogando num grande time do Ypiranga de São Paulo, que tinha dois meias-construtores, extraordinários, Rubens e Bibe, no Campinho da Graça, em Salvador. Depois ele foi pro Vasco, onde atuou como titular, dez anos seguidos, substituindo Barqueta na equipe que formava: Barqueta, Sampaio e Augusto; Beracochea; Dino e Argemiro; Santo Cristo, Lelé, Isaias, Jair e Chico.

Fiz amizade com Barbosa quando veraneei em Boa Viagem em 1955, ele veio pro Santa Cruz e morava com o volante Ely do Amparo na pensão Suíça. Era um homem cortez, simpático e educadíssimo. Joguei muito boliche com ele, perdendo sempre, para gozação de Ely que integrou com Mirim e Pinheirense uma linha média inesquecível na Ilha. Barbosa era o arqueiro do Expresso da Vitória, lendário campeão sulamericano, invicto, do Vasco de 1949, que não perdia pra ninguém: Barbosa, Augusto e Rafanelli; Ely, Danilo e Jorge; Tesourinha, Maneca, Heleno, Jair e Ademir. Técnico Flávio Costa, o Alicate. De média estatura, ágil, elástico, seguro, perfeita colocação, suas mãos atraiam a bola como imã.

Ele não é o culpado pela trágica derrota do Brasil para o Uruguai, por 2 x 1, no Maracanã com duzentos mil torcedores. A Seleção estava concentrada nas Paineiras, em paz, quando os cartolas (sempre eles) pressionados pelos políticos de plantão (sempre eles), transferiram a concentração para São Januário, em busca de maior visibilidade e propaganda pois tinham certeza que iríamos ser campeões. E a concentração de São Januário virou um Inferno de Dante e de todos os dias. A imprensa esportiva do Sul contribuiu com a derrota com manchetes tipo: "Brasil Campeão Mundial", na véspera da final. Havia também duras recomendações para que "jogássemos limpo", pois queriam uma "vitória limpa", do que se aproveitaram os uruguaios para ganhar na raça, com direito a tapas de seu capitão Obdulio Varela.

O Brasil jogava pelo empate, Friaça fez 1 x 0, no primeiro tempo, no segundo o Uruguai empatou e veio o fatídico lance decisivo. O veloz ponta-direita Giggia driblou Bigode, foi à linha de fundo e em vez de centrar, como sempre fazia, chutou em gol e a bola entrou no canto entre Barbosa e a trave esquerda. Vi e revi este lance quinhentas vezes. Como não podia deixar de ser, culparam três negros inocentes pela derrota: Bigode, Juvenal e Barbosa. Barbosa disse, certa vez, que no Brasil, a pena máxima é de trinta anos e ele já cumpria quarenta. Foi o maior goleiro brasileiro de todos os tempos.

Arthur Carvalho - Academia Pernambucana de Letras

 

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