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O risco da falta de alternativas levarem os eleitores a apostarem mais uma vez na estupidez

Bolsonaro conseguiu atrair o descontentamento e ainda enganar os empresários com as propostas reformistas e liberais

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SÉRGIO C. BUARQUE

Publicado em 12/05/2021 às 6:10
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A grande maioria dos eleitores de Bolsonaro em 2018 não esperava que ele fosse um bom presidente. Votaram, na verdade, contra os outros, votos de indignação e rejeição e não de esperança no candidato da ultradireita.

Indignação com a corrupção, rejeição da politicagem (corrupta e fisiológica), decepção com o ex-presidente Lula (seu envolvimento com a corrupção e sua promiscuidade com velha política), insatisfação com o desmantelo econômico do governo Dilma e, por último, mas não menos importante, incômodo com os desatinos do "politicamente correto". Bolsonaro conseguiu atrair este descontentamento e ainda enganar os empresários com as propostas reformistas e liberais de Paulo Guedes mesmo sendo ele mesmo o oposto do ministro da Economia.

Na medida em que vai ficando evidente o desastre do seu governo, a sua incompetência, truculência e irresponsabilidade, incluindo a estupidez diante da pandemia que levou à catástrofe nacional, Bolsonaro perde a esmagadora maioria deste eleitorado.

Os que aplaudiram a Lava jato e Sérgio Moro e acreditaram nos seus discursos enganadores estão percebendo as suas iniciativas para esconder as operações criminosas quando começam a ameaçar seus filhos. Os que votaram nele pelo discurso antipolítico e sua crítica da velha política, já perceberam que Bolsonaro entregou a alma ao Centrão, a maior expressão desta política tradicional que também se mistura com a corrupção. E os empresários já sabem que o presidente nunca teve compromisso com as reformas liberais e estruturais que Paulo Guedes utilizou como canto de sereia para seduzir os agentes econômicos do Brasil.

As pesquisas eleitorais e as recentes manifestações de apoio ao presidente parecem mostrar que ele ainda conta com uma indiscutível base eleitoral.

Será? Excluindo os seus fanáticos seguidores, mobilizados por uma agenda ultraconservadora nos costumes e um anacrônico delírio anticomunista, o restante dos eleitores brasileiros padece de uma carência aguda de liderança que apresenta uma alternativa confiável e viável, diferente do que se desenha com a candidatura do ex-presidente Lula, declaradamente contra as reformas e as privatizações, maculado pela corrupção em larga escala e se movimentando com desenvoltura com os velhos e carcomidos políticos brasileiros.

Na falta desta alternativa, é provável que uma parte dos eleitores descontentes, tapem o nariz e apostem outra vez na estupidez.

Sérgio C. Buarque, economista

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