INTERFERÊNCIA

Ambiente político, fiscal e econômico ainda contaminam valorização do real

Recentemente, o aumento da inflação conduziu, com atraso, o Banco Central, a aumentar a taxa de juros para 3,5%, embora a economia esteja em recessão

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JORGE JATOBÁ

Publicado em 18/05/2021 às 6:00
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Inflação é a persistente elevação do nível geral de preços. Quando alta e crescente, faz muito mal à economia e à sociedade porque desestrutura o sistema de preços, compromete o planejamento das empresas e pune severamente os mais pobres. A inflação depende de sua inércia, das expectativas dos agentes econômicos e de choques de demanda ou de oferta. A inflação brasileira nos últimos doze meses atingiu 6,76%, quase o dobro do centro da meta de 3,75% definida pelo Banco Central para este ano. A inflação tem sempre vilões. Em 2021, tivemos vários, nem sempre simultâneos: alimentos, combustíveis, medicamentos e o dólar. A valorização do dólar ao elevar os preços dos bens e serviços importados, contribui para aumentar a inflação.

A pergunta é por que o real está tão desvalorizado (perda de 10,2% em 2021) quando a alta dos preços das commodities ( 11,2%) está gerando um superávit na balança comercial (previsão de US$ 89,4 bi para 2021) que deveria conduzir a uma queda no preço do dólar. A resposta é o ambiente político, fiscal e econômico que eleva incertezas e riscos. Esse cenário adverso eleva o preço do dólar em decorrência da evasão de divisas (perdas de R$88 bi em 2020) por saídas de multinacionais como a Ford, entre outras, de saídas da bolsa de valores e de remessas de lucros e dividendos por aversão ao risco. E evita entrada de recursos externos para investimento diretamente produtivo pelas mesmas razões.

Recentemente, o aumento da inflação conduziu, com atraso, o Banco Central, a aumentar a taxa de juros para 3,5%, embora a economia esteja em recessão. O aumento da SELIC ampliou o diferencial entre as taxas de juros brasileira e norte-americana, tornando mais rentável a entrada de capital especulativo de curto prazo que opera na bolsa brasileira e no mercado de títulos públicos. Por essa razão, o real se valorizou nas três últimas semanas, descendo de R$ 5,70 para R$ 5,27 por dólar. Isso não compensou, todavia, a significativa evasão de divisas da bolsa brasileira ocorrida em 2020.

Juros, câmbio e inflação estão inter-relacionados do ponto de vista econômico, mas a componente política que molda as expectativas está sempre presente. Uma economia fragilizada em meio a uma enorme crise fiscal e a turbulências políticas recorrentes está sujeita a instabilidades e inseguranças que desequilibram o câmbio, geram inflação e alta de juros, complicando o cenário econômico já deteriorado pela crise sanitária.

Jorge Jatobá, doutor em Economia

 

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