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A excepcional professora Socorro Ferraz

A professora Socorro Ferraz receberá em breve o título de Professora Emérita da UFPE. Nada mais justo.

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FLÁVIO BRAYNER

Publicado em 27/05/2021 às 6:15
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A professora Socorro Ferraz receberá em breve o título de Professora Emérita da UFPE. Nada mais justo e explico a razão. Eu sempre achei que existiam dois tipos de professores: os Bons e os Ruins! E nesta minha taxonomia, não entravam nem sequer os professores medianos: eles eram imediatamente arrolados na categoria dos "ruins", sem piedade (claro, se me perguntassem em que lado eu estava, não hesitaria em dizer, com a vaidade de todo professor, "entre os Bons"!).

Com quais critérios eu os hierarquizava, e a partir de quais protocolos de distinção, isto era outra conversa. Só tardiamente pude perceber meu erro: para além dos bons e ruins também existiam os PROFESSORES EXCEPCIONAIS! Socorro Ferraz se situa nesta categoria.

Mas, atenção: esta excepcionalidade não reside apenas naquilo que ela fez como professora: na amplidão de vistas, na sensibilidade pedagógica, na vasta e reconhecida erudição, na defesa intransigente e sensata de um pouco de justiça social e de dignidade humana, na capacidade de enxergar na História dos homens um dos pouquíssimos recursos de que dispomos para nos compreendermos e poder construir uma "identidade" e, sobretudo, na responsabilidade, inteligência e coerência com que ela praticou tudo isso. Esta "excepcionalidade" é a percepção que nós, que fomos seus alunos e orientandos, temos a respeito da sua presença em nossas vidas; e esta percepção é tardia, como o vôo da Coruja de Minerva!

Há coisas que têm preço e que podem ter um equivalente, mas há coisas que não têm equivalência: esta ausência de equivalência, que faz de cada um de nós um "fim-em-si-mesmo" e que nos condena a nos construirmos a nós mesmos, chama-se DIGNIDADE! O que a Mestra Socorro fez foi traduzir isto na prática do ensino universitário de História e é exatamente isto que faz com que a vida de seus alunos tivesse ali, no contato pedagógico e humano com a Mestra, um ponto de inflexão. De uma certa maneira, nós não seríamos mais os mesmos!

Na minha modestíssima utopia acadêmica, quando um viajante, numa noite de inverno, bater à minha porta e perguntar: "- O que é a UFPE?", eu não responderei mais com platitudes do tipo "É a primeira universidade do Norte-Nordeste" ou "A décima do Brasil". Não, não, não! Responderei simplesmente: "- É a Universidade que outorgou o título de Professora Emérita a Socorro Ferraz!".

"- Ah!, me dirá aquele viajante, então deve tratar-se de uma grande Instituição"!

Flávio Brayner, professor da UFPE

 

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