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Reabrir escolas, recuperar perdas!

"É preciso correr para recuperar prejuízos. A reabertura das escolas, sem politização, de forma gradual e segura, é o caminho". Leia a opinião de Mendonça Filho

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MENDONÇA FILHO

Publicado em 05/06/2021 às 6:15
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Fechar ou abrir escolas. Eis um dilema global colocado para a educação na pandemia. No Brasil, como sempre, uma questão dessa magnitude e prejuízos sociais brutais, continua tragada pelo debate ideológico estéril. Enquanto no mundo 80% dos países estavam com atividades escolares presenciais em fevereiro, segundo a Unesco, nós chegamos em junho sem soluções consensuais para retornar às aulas nas redes públicas. O impacto negativo no aprendizado, no aumento na desigualdade social e na produtividade do trabalho é devastador.

O Instituto Unibanco e o Insper divulgaram, no início da semana, estudo apontando que o déficit de aprendizagem na pandemia leva a uma perda de renda de R$ 700 bilhões - um décimo do PIB do País - para estudantes brasileiros da rede pública, que tiveram aula remota em 2020. Perda que pode chegar a R$ 1,5 trilhão no final de 2021, se as escolas continuarem fechadas. Coordenado pelo economista Ricardo Paes de Barros, o estudo considerou 35 milhões de alunos (fundamental/médio) e fez o cálculo com base noutra pesquisa, que mostra que o impacto de 1 ponto no Saeb é de 0,5% na remuneração de trabalho de toda a vida de um jovem.

O estudante brasileiro aprendeu menos em 2020 e iniciou este ano com perda de nove pontos em português e dez pontos em matemática na escala Saeb. Paes de Barros alerta que essa déficit afeta o estoque humano e a capacidade criativa do País. E destaca a urgência de medidas no curto, médio e longo prazo para evitar que esses jovens sejam menos produtivos e o Brasil produza menos durante décadas.

Diante desse e de tantos estudos apontando as perdas com a escola fechada, não podemos continuar idealizando um cenário perfeito. É preciso correr para recuperar prejuízos. A reabertura das escolas, sem politização, de forma gradual e segura, é o caminho. Depois de mais de um ano de pandemia, já sabemos minimamente como lidar com a questão sanitária. Seguir os protocolos, acelerar a vacinação dos professores, o distanciamento físico nas escolas, monitorar a situação epidemiológica para casos de contaminação.

No pedagógico, o foco é reduzir danos e recuperar prejuízos, num esforço coletivo que garanta a volta do aluno para a sala de aula. Do acolhimento, à busca ativa, passando pela reorganização de currículos, calendários, etc. As crianças e jovens precisam encontrar uma sala de aula segura e que tenha aprendido com as perdas da pandemia. Que escute as demandas de professores, alunos, seja mais próxima da família, invista na formação docente, em tecnologia e esteja preparada para novos formatos de ensino.

Mendonça Filho, ex-ministro da Educação e consultor da Fundação Lemann

 *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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