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O adeus ao advogado Bóris Trindade

"O mundo jurídico acaba de perder Bóris Trindade, um dos maiores advogados criminalistas de todos os tempos". Leia o artigo de Adeildo Nunes

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Adeildo Nunes

Publicado em 10/06/2021 às 6:15
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O mundo jurídico acaba de perder Bóris Trindade, um dos maiores advogados criminalistas de todos os tempos. Conheci o brilhantismo de Bóris, precisamente, na minha época de estudante de Direito. Entre 1980 e 1982, bem próximo aos últimos períodos do meu curso, com assiduidade, passei a frequentar o salão nobre do tribunal do júri do Recife, no atual Palácio da Justiça, na Rua do Imperador, principalmente no período de estágio forense, em que era exigido pela faculdade uma carga-horária na área criminal. Naquele recanto em que defesa e a acusação discutiam se o réu era culpado ou inocente, tive a sorte de presenciar inesquecíveis sessões presididas pelo juiz Nildo Nery dos Santos (meu professor de criminologia), um magistrado que sempre será lembrado pelos antigos e pelos novos profissionais do Direito.

De logo fiquei fascinado com a extraordinária atuação de Bóris, na defesa dos muitos acusados, de todas as classes sociais, na tribuna do júri, dando exemplos da sua genialidade oral, tão necessária no sentido de convencer os jurados de que o seu cliente era inocente. Ao lado da sua tenacidade e da sua técnica jurídica invejável, também estava o seu espírito de humanidade, que imperava em cada gesto e nas palavras que soavam sutilmente.

Se ora Bóris sustentava em plenário que o seu paciente houvera praticado os fatos baseados em quaisquer das excludentes de ilicitudes (legitima defesa, estado de necessidade ou estrito cumprimento do dever legal), ora a tese da negativa de autoria, os seus argumentos jurídicos quase sempre levavam os jurados a optar pela absolvição do réu, embora a acusação fosse sustentada pelo magnífico promotor de Justiça, Nelson Souto, que honrou o Ministério Público de Pernambuco.

Finda a seção de cada júri, fosse o réu absolvido ou condenado, quantas vezes assisti Bóris se dirigir aos estudantes presentes ao júri, como eu, dissertando sobre os motivos que levaram os jurados a decidirem daquela forma, sem contar que a sua tese de defesa (vencedora ou vencida) era comumente ressaltada, nos mínimos detalhes, no mais das vezes com base nas suas convicções pessoais e técnicas sobre a importância do tema suscitado, ao tempo em que oferecia seus vastos conhecimentos jurídicos a quem ali estava para aprender. Já como juiz de Direito, em Gravatá, tive a felicidade de presidir um júri com Bóris atuando na defesa. Aprendi mais.

Adeildo Nunes, sócio do escritório Nunes e Rêgo Barros Advogados Associados

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