Opinião

Colonialismo de dados é mais uma sequela da covid-19

"Enquanto o colonialismo histórico é caracterizado pela exploração de recursos naturais, no colonialismo de dados ocorre a extração de recursos sociais". Leia a opinião de Juliano Domingues

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JULIANO DOMINGUES

Publicado em 21/06/2021 às 8:16
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Nunca estivemos tão conectados. A pandemia impulsionou o processo de interação mediada por dispositivos digitais e reforçou uma lógica de produção e extração de informação baseada na vigilância e no monitoramento. A intensificação do chamado “colonialismo de dados” é mais uma sequela da COVID-19.

Esse conceito é apresentado pelos professores Nick Couldry (London School of Economics and Political Science) e Ulises Mejias (State University of New York) no livro The Cost of Connection: how data
is colonizing human life and appropriating if for capitalism.

Enquanto o colonialismo histórico é caracterizado pela exploração de recursos naturais, no colonialismo de dados ocorre a extração de recursos sociais. Cada aspecto da vida social se torna passível de quantificação e comercialização, para lucro aos gestores dessa estrutura, os colonizadores

O distanciamento social pandêmico catalisou a digitalização da vida e, consequentemente, o processo investigado por Couldry e Mejias. Da escola ao trabalho, passando pela padaria, (quase) tudo se transferiu para a tela do celular ou do computador. Isso levou ao aumento do uso
de internet (70%) e de mídias sociais (63%), como WhatsApp (40%) e Facebook (37%), segundo o Kantar. O lucro da Amazon e da Microsoft cresceu 44% no primeiro trimestre comparativamente ao mesmo período do ano passado, a Apple teve receita de US$ 90 bi nos primeiros três meses deste
ano e a Alphabet, holding que controla a Google, de US$ 56,9 bi no último trimestre de 2020. Essas tecnologias tornaram viável o dia a dia na pandemia, é verdade. Mas a digitalização da vida nesse nível cobra seu preço. Ela estabelece uma nova ordem social a partir de uma engenharia computacional de
produção e extração de dados guiada pelo mercado, sem que o alvo dessa apropriação (eu,
você e todo mundo) seja devidamente informado a respeito. Quando você usar um serviço de streaming, de delivery ou fornecer seu CPF a uma farmácia, por exemplo, lembre-se: a sua vida social é o alvo dessa exploração predatória. E isso tem nome: colonialismo de dados.

PS: Couldry e Mejias participam de webinar do Codec (Grupo de Estudo Comunicação, Democracia e Controle) da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) no próximo dia 29, a partir das 9h, com
transmissão pelo canal da Unicap no Youtube (youtube.com/unicapvideo).

Juliano Domingues é coordenador da Cátedra Luiz Beltrão de Comunicação da Unicap e é membro Codec.

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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