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Era para ter sido noite de São João

"Ai que saudade eu sinto da noite de São João que bateu asas e deixou meu coração queimando feito brasa"

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SÉRGIO GONDIM

Publicado em 25/06/2021 às 6:04 | Atualizado em 26/06/2021 às 1:53
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Olha eu aqui de novo nesse vai e vem, maltratado e machucado, sentindo um aperto desses que o sujeito não pode aguentar. Se já não era muito, agora não sou mais nada.

Bagunçou meu coração, tirou ele do peito, sacudiu pela calçada, pisou em cima, esmagou minha razão. Tirou minha alegria, desmanchou o meu viver, fez um buraco dentro da minha saudade. É tão ruim quando alguém machuca a gente, o coração fica doente, dói demais, só quem ama sabe e sente. Ainda me lembro do caminhar, do jeito de olhar, eu me lembro bem. Fico querendo sentir o cheiro, é daquele jeito que ela tem.

Não posso respirar, a terra está morrendo, não dá mais pra plantar, até água da boa é difícil de encontrar.

Cadê a flor que estava aqui? Poluição comeu.

Ô tempo duro, ô tempo escuro, ô tempo quente e o dragão é voraz.

Eu perguntei a Deus do céu, por que tamanha judiação? Desculpe eu pedir pra acabar com o inferno, Oh Deus, perdoe este pobre coitado. Será que o Senhor se zangou e só por isso o sol arretirou? Se eu não rezei direito o senhor me perdoe, a culpa foi desse pobre que nem sabe fazer oração. Sei que errei, tô aqui pra pedir perdão, cabeça doida, coração na mão.

O santo é de barro e pode cair. Repare: a multidão precisa alguém mais forte a lhe guiar. Não alguém que só quis me ver sofrer, não quem só me quis fazer chorar. É preciso sair dessa, mesmo sem um só remédio em toda medicina.

Toda caminhada começa no primeiro passo. A natureza não tem pressa, segue seu compasso, mas a sanfona não parou, o forró continuou. Bote fé nessa bandeira, comigo não tem mizura, não há jogo de cintura que eu não dê um nó.

Vou na casa dela, falar do meu amor pra ela, não sei se vou me segurar. Ai como eu queria dar outro beijo, matar o meu desejo, como eu queria. Pode ser um beijo, pode ser aquela rosa, eu quero o cheiro do teu corpo no meu ser. Quem me dera voltar pros braços do meu xodó, saudade assim faz roer e amarga que nem jiló.

Já faz três noites que pro norte relampeia. Ai que saudade eu sinto da noite de São João que bateu asas e deixou meu coração queimando feito brasa. Canto, choro, me lamento, faço prece, acendo a estrela mais bonita lá de cima, faço tudo que puder prá ela ficar mais eu.

O xote faz milagre acontecer.

Sei que lá ainda mora um pedacinho de mim e um grande amor não se acaba assim.

Sérgio Gondim

*uma homenagem, em lágrimas, aos poetas que "escreveram' esse texto

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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