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Lula, Bolsonaro, alternativas e despolarização

"Movimento das intenções de voto denuncia a fragilidade e a dispersão do polo democrático, sua incapacidade de atração dos eleitores que não querem Lula nem Bolsonaro (os chamados nem-nem)". Leia a opinião de Sérgio C. Buarque

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SÉRGIO C. BUARQUE

Publicado em 07/07/2021 às 6:11 | Atualizado em 09/07/2021 às 1:53
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De acordo com a última pesquisa do IPEC sobre intenções de voto nas eleições presidenciais de 2022, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva seria eleito no primeiro turno, com 49% do total de votos, dez pontos percentuais acima da soma de Bolsonaro e dos outros candidatos considerados.

Embora ainda seja muito cedo, considerando que estamos a 15 meses das eleições, é surpreendente que, como mostra a pesquisa, os eleitores descontentes com Bolsonaro estariam migrando para Lula e não para os candidatos do chamado centro democrático (25% dos que votaram em Bolsonaro em 2018 declararam que votarão em Lula em 2022). Desta forma, estaria havendo uma certa despolarização eleitoral que, no entanto, seria provocada pela desidratação de Bolsonaro e não, pela emergência de uma terceira via. Este movimento das intenções de voto denuncia a fragilidade e a dispersão do polo democrático, sua incapacidade de atração dos eleitores que não querem Lula nem Bolsonaro (os chamados nem-nem).

Indicando uma possível vitória de Lula no primeiro turno, as pesquisas podem gerar um efeito manada, consolidando e, mesmo, reforçando a vantagem eleitoral do ex-presidente. O mais provável, contudo, seria que essa esmagadora vantagem leve a um realinhamento dos eleitores nem-nem que, ao perceberem a redução do risco de reeleição de Bolsonaro, se sentem liberados para buscar um candidato alternativo.

Na eventualidade de um impeachment do presidente Bolsonaro, a vantagem de Lula deve encolher, na medida em que a esmagadora maioria dos nem-nem migraria para outro candidato. Não se pode, contudo, subestimar a capacidade de recuperação eleitoral de Bolsonaro, como fazem alguns políticos que chegam a considerá-lo fora do segundo turno.

Tudo indica que sua posição na pesquisa seja o seu piso. Por outro lado, Lula deve ter batido no teto. Alguma recuperação do presidente nas próximas pesquisas, reacenderia o risco da sua reeleição, reforçando a posição de Lula.

A não ser que apareça uma candidatura alternativa capaz de empolgar e passar confiança aos eleitores que não querem a volta de Lula ao poder e, principalmente, abominam este governo destrutivo e criminoso. Parece difícil. Mas, possível e necessário.

Sérgio C. Buarque, economista

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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