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Lógica da ética há de permear não só eleições para cargos públicos, mas qualquer processo de escolha

"Legitimidade eleitoral, enfim, envolve confiança. E a ética não é só um atributo esperado dos candidatos e partidos, mas do próprio eleitor, como não mercadejar seu voto, e dos meios de comunicação, que devem informar com responsabilidade e ao mesmo tempo isenção, além de abdicar de confundir ou manipular a opinião pública". Leia a opinião de Gustavo Henrique de Brito Alves Freire

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Gustavo Henrique de Brito Alves Freire

Publicado em 13/07/2021 às 6:00
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É da natureza humana, desde que o mundo é mundo, competir. O impulso de concorrer é da gênese do empreendedorismo e da globalização, portanto, não necessariamente algo negativo, dependendo de como é exercitado.

Vejam-se as disputas eletivas. Que script ético é o observado pelo homem? Parece valer tudo para vencer, inclusive, distorcer a verdade, até inventá-la. Os fins justificariam os meios. O marketing político se confunde com uma agência de detetive, a cascavilhar podres? Se preciso, expor a intimidade do adversário visando aniquilá-lo? Propostas, ideias não interessam? O que dá tempero é a pimenta? É o prazer da caçada?

Se é certo que, no regime democrático, mais que perguntar "quem é que manda", é urgente questionar "por que é que se obedece", inegável que, para tanto, quem manda deve possuir legitimidade, o que decorre, por sua vez, de um processo eleitoral sério. Mas a eleição é uma ferramenta neutra, de modo que, para ser válida, exige, entre outras coisas, a capacidade de garantir um grau razoável de competitividade.

Como escreveu Frederico Alvim para o site da Escola Judiciária Eleitoral do TSE, "compreende a ética os ideais pelos quais devemos nos esforçar (por exemplo, a luta por eleições justas) e, especialmente, o modo como deve o indivíduo se comportar (atitudes que devemos todos assumir para que aquele plano se concretize)". ("O papel da ética no processo eleitoral").

Legitimidade eleitoral, enfim, envolve confiança. E a ética não é só um atributo esperado dos candidatos e partidos, mas do próprio eleitor, como não mercadejar seu voto, e dos meios de comunicação, que devem informar com responsabilidade e ao mesmo tempo isenção, além de abdicar de confundir ou manipular a opinião pública.

A tudo se soma o fenômeno das fake news, que tem levado muitos a falar em uma "sociedade da desinformação" e em uma "era da pós-verdade" ou de "erosão da verdade".

A lógica da ética há de permear não só as eleições para cargos públicos, mas qualquer processo de escolha, sob pena de se resumir a um teatro, a uma farsa, a um engodo.

É, por isso, crucial buscar o fato ao recepcionar a notícia; não compartilhar sem ter certeza da procedência da informação; não escolher candidato por impulso; duvidar das promessas mirabolantes, generosas ao extremo, sobretudo as de legalidade discutível; e respeitar a opinião divergente, sem ofender.

O receituário é simples. Acrescentar ou tirar ingredientes é que pode pôr tudo a perder. Que tenhamos enquanto humanidade a capacidade de absorção desse ensinamento, ou nos autocondenemos ao exílio no fracasso sem volta.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado

 

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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