Opinião

O amor pelo SUS e a pandemia

"O SUS é considerado um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo e tem como pilares básicos a Universalidade; a Integralidade e a Equidade". Leia a opinião de Priscila Lapa e Sandro Prado

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PRISCILA LAPA, Sandro Prado

Publicado em 19/07/2021 às 6:40 | Atualizado em 19/07/2021 às 6:44
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O Sistema Único de Saúde (SUS) completará 31 anos de existência no mês de setembro de 2021. É por meio dele que o Estado brasileiro garante o direito constitucional de acesso à saúde pública a todo cidadão brasileiro, sem distinção de renda ou ideologia. Goste ou não do sistema, qualquer indivíduo pode utilizá-lo. O SUS é considerado um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo e tem como pilares básicos a Universalidade (Direito de todos e dever do Estado); a Integralidade (atendimento resolutivo a toda área da saúde) e a Equidade (atendimento a pacientes de acordo com as necessidades individuais com justiça e igualdade).

A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE, em 2019, aponta que 71,5% dos brasileiros (mais de 150 milhões de pessoas) não possuem qualquer serviço de saúde suplementar, como planos médico-hospitalares ou odontológicos. Isso antes da pandemia. Com a perda de renda por parcelas de trabalhadores, é possível que o acesso à saúde privada esteja ainda mais reduzido.

O orçamento da União previsto para 2021 é de R$ 125,8 bilhões. Em 2020, a União aplicou R$ 161 bilhões e, em 2019, quando não havia pandemia, R$ 122,2 bilhões. A redução de recursos destinados ao SUS, em um momento tão necessário, gerou indignação em diversos segmentos da sociedade. A pandemia trouxe o sistema público de saúde para o centro da agenda nacional e nunca foram vistas tantas manifestações de apoio ao SUS pelos brasileiros.

Países como os Estados Unidos da América do Norte (EUA) não oferecem sistema público de saúde aos seus cidadãos. Dentro da ótica do livre mercado (neoliberalismo), por lá se entende que a saúde é uma responsabilidade de cada indivíduo, ou seja, cada pessoa deve custear as suas despesas com saúde, atuando o Estado apenas como regulador. A média de um plano de saúde nos EUA é de R$ 2 mil e o custo para se chamar uma ambulância é de cerca de R$ 7 mil.

O astrólogo Olavo de Carvalho - guru do bolsonarismo e mentor da extrema direita no país - veio ao Brasil para tratar da "doença do carrapato". Estava internado nos EUA onde tinha que custear todo o tratamento. Segundo sua filha, aproveitaria do Sistema Universal de Saúde brasileiro para fazer o tratamento gratuito também de outros males que o acomete, como problemas cardíacos, diabetes e doenças no pulmão e rins.

Internado às pressas no Instituto do Coração (InCor), pertencente ao Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), não pagará nenhum honorário. Em seus escritos e lives sempre achincalhou o SUS e as Universidades Públicas brasileiras dizendo serem "pontos de distribuição de drogas e locais de suruba". Pois é, parece que o digital influencer Olavo de Carvalho agora ama o SUS. Tomara que sirva de lição em um país de tantas contradições.

Priscila Lapa, cientista política

Sandro Prado, economista

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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