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A inveja da Disney, de Houston e da vacina da Pfizer

"Você tomou a Pfizer? A resposta define o seu status. Seria algo como perguntar se já foi à Disney na década de 80 ou se tratou o seu câncer em Houston. O motivo muda, mas a inveja continua a mesma". Leia a opinião de Ermano Melo

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ERMANO MELO

Publicado em 22/07/2021 às 6:00
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Você tomou a Pfizer? A resposta define o seu status. Seria algo como perguntar se já foi à Disney na década de 80 ou se tratou o seu câncer em Houston. O motivo muda, mas a inveja continua a mesma. É justo, mas está mais do que na hora de entendermos o fracasso latino americano em comparação aos EUA. Não somos subdesenvolvidos porque eles são desenvolvidos e eles não são poderosos porque nos exploraram, como nos ensinam os mitos revolucionários. Em 1700, o império espanhol da América era mais rico e mais poderoso que as 13 colônias inglesas que ocupavam apenas a costa leste e eram meros exportadores de matérias-primas; Boston e Nova Iorque eram vilarejos se comparados a Caracas. Como tudo mudou tão rápido?

Carlos Rangel (1929-1988) é certeiro. Relata que a descoberta da América despertou nos europeus o mito do bom selvagem; os nativos seriam uma espécie de Adão antes da expulsão, que não valorizavam metais preciosos, propriedade privada e andavam sem roupas. Era possível então construir um novo mundo, bondoso e solidário. Mas a natureza humana é uma só e logo poucos espanhóis dominaram e dizimaram os impérios que aqui habitavam. Os índios foram escravizados, as índias estupradas e criou-se a cultura dos filhos sem pai, tão presente ainda hoje. Ao contrário, os anglo-saxões foram para o norte em busca de liberdade religiosa e econômica e não escravizaram os índios, que foram empurrados para o oeste ou mortos em disputas por terras. Filhos bastardos eram criados e educados. Foram fundar um país em vez de saquear.

Bolívar, herói latino, escreveu em 1830: a América é ingovernável, este país (Grã-Colômbia) cairá em mãos de multidão desenfreada e depois passará para os tiranetes. Francisco de Miranda, venezuelano nascido em 1750, relatou em sua passagem por Massachussets... tal é a destreza e o espírito de liberdade...que de uma pequena porção de terra, tiram o necessário para suas grandes famílias...mil vezes mais felizes que os donos de escravos das ricas minas e terras de toda a américa espanhola...

Com o fracasso do bom selvagem, criaram o mito do bom revolucionário; Perón, Fidel e Che são heróis e os ianques culpados pela nossa pobreza. Esquecem que os EUA só intervieram na América Latina politicamente a partir da construção do canal do Panamá no início do Séc XX, quando já eram ricos e gigantes. A América espanhola tinha se subdividido em diversos países, cada um com várias revoluções e golpes. O Brasil foi menos ruim, D João VI por aqui manteve um único país. Então temos inveja sim, inveja de John Adams, de George Washington, de Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, que fundaram um país cujo alicerce era a família, o trabalho, a liberdade e o respeito às leis. A inveja da Disney, de Houston e da Pfizer é só um lembrete.

Ermano Melo, médico oftalmologista

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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