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Anúncio da leviana decisão federal sobre ramal da Transnordestina é afronta a Pernambuco

"A frase-síntese pronunciada sobre a transposição do São Francisco deveria ser reutilizada e afirmarmos: 'Sem chegar até Suape a ferrovia não passa por Pernambuco'. É preciso acordar o Leão antes que ele comece a miar como o gatinho do Nordeste". Leia a opinião de Paulo Roberto Barros e Silva

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PAULO ROBERTO BARROS E SILVA

Publicado em 30/07/2021 às 6:00
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A História de Pernambuco tem marcas e traços de liderança, de coragem, de lutas libertárias. Nós nos orgulhamos da bandeira que é vista pelo mundo afora lembrando Tabocas, Guararapes, Frei Caneca. Assim nasceu o "Leão do Norte", altivo e ativo na defesa da pátria e de sua gente. Ao longo do tempo, o apelido foi esmaecendo, mas, quando necessário, o rugido do Leão era escutado, como no Planalto Central quando o projeto da Transposição do Rio São Francisco foi apresentado aos governantes do Nordeste.

Os tecnocratas brasilienses resolveram atravessar o território pernambucano levando a água do Rio para a Paraíba, Rio Grande do Norte e o Ceará. Nós ficaríamos assistindo as águas passarem. O Leão deu um murro na mesa. Representando o Governador Jarbas Vasconcelos, o seu vice Mendonça Filho quebrou a solenidade com a frase-síntese - "Sem água para o sertanejo de nossa terra a transposição não passa, procurem outro caminho". Falou pelos pernambucanos. Mudaram o projeto, e as águas do São Francisco vão chegar inclusive ao Agreste.

O exemplo internacionalmente reconhecido de Suape representa a superação de um povo capaz de fazer, pois está no mapa-múndi um ponto-porto atraindo a atenção e os circuitos de carga no continente latino americano. É neste cenário que nasceu a Ferrovia Transnordestina para chegar até Suape, na direção do senso logístico que se faz questão de não olhar.

O anúncio da leviana decisão federal de "apertar a tecla reset" no ramal da Transnordestina para Suape é uma afronta a Pernambuco. A ferrovia, cuja leitura nem sempre é sobre os trilhos, em especial na sua modelagem econômica, vai para o Porto de Pecém, no Ceará. Sabemos que Pecém veio a reboque de Suape e do seu traçado original. Infelizmente a decisão já está em curso desde a sua modelagem, como demonstram, por exemplo, algumas toneladas de trilhos enferrujando no bairro de São José.

A frase-síntese pronunciada sobre a transposição do São Francisco deveria ser reutilizada e afirmarmos: "Sem chegar até Suape a ferrovia não passa por Pernambuco". É preciso acordar o Leão antes que ele comece a miar como o gatinho do Nordeste. Ainda há tempo.

Paulo Roberto Barros e Silva, arquiteto.

 

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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