Na Revolução Digital 4.0, liderar pelo exemplo nunca foi tão necessário

A denominada Revolução Digital 4.0, da qual somos todos testemunhas, vem transformando rapidamente a sociedade. A vida em redes, as relações líquidas, os algoritmos, a pós-verdade, privacidade e transparência são termos com a marca da disrupção, que acontece em uma velocidade jamais vista na história e que vem remodelando valores da sociedade. Nem todos os valores, porém, a nova era digital está "aposentando". É o caso da ética, integridade, verdade nas relações sociais (físicas ou virtuais) e a ponderação para a tomada de decisões. A velha máxima de liderar pelo exemplo nunca foi tão necessária, principalmente diante de um ambiente altamente contaminado por fenômenos extremamente danosos em todas as áreas: a disseminação de fake news, desinformação e discursos de ódio.

É justamente na ética onde reside um dos grandes desafios do mundo virtual: o de separar as convicções das verdades. Para muitos, vale mais propagar convicções, que soam como música para os seguidores nas suas bolhas e geram likes, que falar sobre a verdade, que pode não engajar tanto. A imagem aparentemente "descolada", com um discurso e embalagem sob medida, por vezes esconde a insubsistência no conteúdo.

O pernambucano Joaquim Nabuco escreveu certa vez que "a consciência é o último ramo da alma que floresce; só dá frutos tardios". O desenvolvimento da consciência e da sensibilidade, que somente a experiência termina por incutir, permite a análise dos cenários com maior precisão e profundidade, o que é especialmente necessário quando da tomada das decisões, na vida pessoal, profissional ou institucional, que muitas vezes (ou quase sempre) repercutem na vida de outras pessoas.

Tenho tido a imensa honra de, neste último triênio, ser parte da gestão da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional de Pernambuco, uma instituição quase centenária que, aliada à sua missão de entidade representativa da advocacia, possui a atribuição de ser uma das principais porta-vozes da sociedade civil. E em meio à instantaneidade das redes sociais e da polarização pela qual passa o nosso país, a nossa instituição é muitas vezes demandada e a ponderação, sem perder a assertividade, tem sido uma das nossas maiores preocupações na tomada de decisões que repercutem nas vidas de tantas pessoas.

Os exemplos nos servem de inspiração e guia em todos os momentos, principalmente nos mais tormentosos. Há uma frase famosa de Burke que diz que "aqueles que não conhecem a história estão fadados a repeti-la". Nas reais e efetivas construções é imprescindível levar em conta o alicerce da ética e da ponderação. Estar conectado significa sintonia não só com o mundo digital, mas também com estes valores atemporais. Nas redes, é comum que se apresentem soluções fáceis para problemas complexos. Na vida real, porém, os problemas são muito mais profundos que a busca por curtidas ou cliques. A história ensina, só precisamos ver e ouvir.

Bruno Baptista, advogado e presidente da OAB/PE

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