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No Brasil, razões não faltam para sentirmos angústia e apreensão

"A sociedade e as instituições de Estado precisam avançar na defesa da ordem democrática. Que se alevantem para salvar a Nação. Urge. Basta de angústia e apreensão". Leia a opinião de Tarcisio Patricio de Araújo

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Tarcisio Patricio

Publicado em 03/08/2021 às 6:15
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Quem não está, no mundo, sob o tacão destes dois sentimentos? Não são novidade, são próprios do homo sapiens; peças-chave do atual mal-estar da civilização. Mas não é disso que quero falar. Pretendo me ater às cores tropicais de nossas angústias e apreensões, neste país de curtinha visão de longo prazo. Longo? Nem médio, sequer. Só valem fruto e usufruto imediatos, por aqueles que privatizam o Estado, fenômeno que se amplia com a indigesta "aliança" entre o Presidente e o tal Centrão, cujo protagonismo explícito nunca foi tão evidente como agora. No Brasil, razões não faltam para sentirmos angústia e apreensão. Comecemos pela economia.

Vivemos situação em que a economia evolui sob a direção de um estranho "piloto automático" e se aproximam dois anos nessa toada. Monta a quase 15 milhões o contingente de desempregados, o que, somado a subempregados e àqueles que são força de trabalho potencial (em princípio, disponíveis para o trabalho), alcança perto de 33 milhões de pessoas. Imagine-se o que isso significa de renda que não é gerada. A via de descenso do PIB, iniciada no 2º. trimestre de 2014, com sucessivos anos de recessão e recuperação medíocre, e com quase dois anos sob a pandemia, nos aproxima de um estado de depressão econômica. Por outro lado, a inflação mostra garras, o que pode ser visto pelo valor recorde do IGP-M, índice de inflação que abarca todo o espectro da produção (preços de matérias-primas agrícolas e industriais, produtos intermediários, bens e serviços finais). Tal indicador já chega a quase 36% no acumulado de 12 meses até junho - absolutamente inédito na era da moeda Real. Bem acima dos valores anuais de 20% (1999), 25% (2002) e 23% (2020). Doem muito mais, para estratos sociais de menor renda (classes C, D e E), momentos de escorchantes aumentos de preços de produtos básicos, principalmente alimentos e combustível. Milhões de famílias diretamente afetadas por desemprego e/ou por perda de vidas para a Covid-19, e por inflação, talvez não tenham chance de se preocupar com cidadania.

Pois é. Se números da economia trazem o inédito do que há muito se conhece, o "novo" é a prática quotidiana do Presidente, de ataques à democracia - tétrico pioneirismo em governança. A reiteração de manifestações anti-democracia conectadas a discurso presidencial de desconstrução da urna eleitoral eletrônica, neste último domingo, deve ser fortemente rechaçada. Explícitos objetivos escusos do gajo na Presidência. A sociedade e as instituições de Estado precisam avançar na defesa da ordem democrática. Que se alevantem para salvar a Nação. Urge. Basta de angústia e apreensão.

Tarcisio Patricio de Araújo, economista, professor aposentado (UFPE), consultor.

 

 *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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