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A Transnordestina e Suape

"Penso que a defesa do ramal de Suape não deve se centrar na questão do menor custo do trajeto, isso seria repetir o lapso que, espero, involuntário do ministro. Devemos focar no tamanho da externalidade positiva". Leia a opinião de Paulo Dalla Nora Macedo

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Paulo Dalla Nora Macedo

Publicado em 10/08/2021 às 6:00
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Por conta de uma live do Valor Econômico, Pernambuco descobriu que não teria mais o ramal da ferrovia Transnordestina quando o Ministro Tarcísio anunciou: "Entendo que as duas 'pernas' não coexistem. Estou deixando claro para todo mundo que não tem demanda para o ramal de Pernambuco e para o ramal do Ceará". Soou como um executivo privado, não como um formulador do poder público.

Antes de entrar nesse debate local, gostaria de dar uma visão do que está acontecendo no mundo em relação aos investimentos no setor ferroviário.

Nos Estados Unidos, o plano de investimentos de Biden prevê destinar USD 80 bilhões, 15% de todo o valor que vai para o ecossistema de transportes apenas para as ferrovias. Esse seria o maior investimento da história na malha ferroviária dos EUA.

Já na Inglaterra, pioneira em privatizações, o governo estuda redesenhar as regras: as companhias ferroviárias receberiam um contrato para operar serviços e as receitas iriam para o governo, que arcaria com os custos e os riscos.

As decisões dos EUA e da Inglaterra em investir pesadamente em ferrovias tem uma lógica além da fala do ministro: as externalidades positivas. Entre elas temos menos poluição, menos horas gastas no trânsito, melhora da competitividade dos produtos locais, enfim coisas com enorme impacto na economia e sociedade, mas não no projeto.

Voltando ao debate local, e à declaração do ministro, tive a oportunidade de conhecer Tarcísio no ano 2016, em Londres, quando atuei na organização de um "roadshow" com investidores globais para o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Tarcísio era auxiliar do Ministro Moreira Franco, que comandava o PPI.

A minha lembrança é clara que toda a equipe dominava o conceito de externalidade positiva, e como isso deveria ser considerado pelo poder público nas decisões de investimento. É certo que o operador privado precisa ser compensado, e existem diversas maneiras de fazer ajustes. Cabe ao formulador público encontrar a solução.

Por isso, penso que a defesa do ramal de Suape não deve se centrar na questão do menor custo do trajeto, isso seria repetir o lapso que, espero, involuntário do Ministro. Devemos focar no tamanho da externalidade positiva.

Paulo Dalla Nora Macedo, economista e Vice-Presidente do Instituto Política Viva

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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