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A Constituição e o desfile de tanques em Brasília

"O fiasco do desfile de tanques militares, no dia em que a Câmara apreciou e coerentemente negou a proposta indecente de retrocesso ao voto impresso, ainda que, em verdade, seja apenas mais uma cortina de fumaça promovida pelo atual governo, não deixa de representar afronta ao Estado Democrático de Direito". Leia a opinião de Pedro Eurico

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Pedro Eurico

Publicado em 13/08/2021 às 6:06
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O fiasco do desfile de tanques militares diante da Praça dos Três Poderes, no dia em que a Câmara apreciou e coerentemente negou a proposta indecente de retrocesso ao voto impresso, ainda que, em verdade, seja apenas mais uma cortina de fumaça promovida pelo atual governo, não deixa de representar uma afronta ao Estado Democrático de Direito. Em um momento de crise sanitária, política e econômica, o país precisa de calmaria e foco nas emergências prioritárias: a pandemia, a inflação e o desemprego, que agravam as desigualdades sociais. Estamos todos fartos de espetáculos diários vazios e que em nada acrescentam, que na prática só incendeiam e afloram o radicalismo e a intolerância nas mais diversas esferas.

Desde sua implantação, o voto eletrônico já elegeu democraticamente pelo menos quatro presidentes, inclusive o que aí está, e, até então, não havíamos registrado qualquer forma de contestação. O voto eletrônico já é uma realidade no Brasil há décadas e tem estudos suficientes que comprovam a sua segurança, autenticidade e integridade. É página virada.

As Forças armadas têm uma missão importantíssima dentro da nação, que é a de defender a Constituição Federal e o seu povo, e não a de ameaçar o parlamento e o poder judiciário. O envio de tanques de guerra e lança-mísseis ao Palácio do Planalto é um movimento extremamente grave e que requer ação e resposta das instituições que repudiam atos golpistas, e que acreditam e defendem a democracia. O Brasil vive em eminente risco de retrocessos, pois, lamentavelmente, no comando, temos um artífice das bravatas, que cria factoides apenas para gerar instabilidade institucional.

A cascata de crises no Brasil é real e vem impactando diretamente a vida de milhares de famílias. O momento requer diálogo e pacificidade, mas o que vemos diariamente são comportamentos, decisões e declarações autoritárias, cujo objetivo é o espetáculo midiático e eleitoreiro. Volto a repetir que a nação precisa se debruçar através de seus governantes no enfrentamento das suas reais dificuldades. Até quando o Governo Federal vai tentar constranger e colocar as Forças Armadas contra os demais poderes? Até quando vamos ficar de braços cruzados diante desses incrédulos absurdos? A defesa da Constituição de 88 e da democracia são temas inegociáveis.

Pedro Eurico, secretário de Justiça e Direitos Humanos

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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