ARTIGO

Depressão, Simone Biles e Pelé

"A depressão talvez seja a pior das doenças, porque o depressivo sente os sintomas de todas, sem ter clinicamente nenhuma delas"

Imagem do autor
Cadastrado por

ARTHUR CARVALHO

Publicado em 18/08/2021 às 6:00 | Atualizado em 20/08/2021 às 2:34
Notícia
X

A depressão talvez seja a pior das doenças, porque o depressivo sente os sintomas de todas, sem ter clinicamente nenhuma delas, e o sofrimento é tão grande que ele chega a desejar uma boa morte. Quase sempre, a depressão vem acompanhada da síndrome do pânico, que incapacita o paciente de exercitar suas atividades profissionais e sociais. Tenho a impressão de que o mal do século pegou Simone Biles, desequilibrando-a psicologicamente.

Não precisa a DP ser tão forte para prejudicar o atleta, o artista ou qualquer pessoa. Quando Didi brigava com sua bela Guiomar, não produzia sessenta por cento do que era capaz em campo. Tornava-se um jogador disperso e errava passes. Coisa rara. O Juvenil do Sport de 55 acabara de jogar uma preliminar amistosa contra o campeão de Alagoas, entrei no vestiário para tomar banho e mudar de roupa, Naninho sentou ao meu lado, começou a vestir o uniforme rubro-negro e amarrar as chuteiras: "Hoje ou me consagro ou me liquido". Perguntei por quê, e ele: "Porque estou bem fisicamente, mas não de cabeça. Minha mulher não veio comigo pro Recife, ficou na Bahia". E estreou muito mal.

O Honvéd, extraordinário time húngaro, excursionava no Brasil, convidaram Puskas para ver a partida do escrete do Rio de Janeiro com o do Paraná, pelo Campeonato Brasileiro, no Maracanã. Puskas foi, o Rio venceu, e, entrevistado pelos repórteres, disse: "O selecionado paranaense já entrou em campo derrotado, com os jogadores de cabeça baixa". Para ele, major do Exército, não se ganha batalha assim.

Nelson Rodrigues achava que o Brasil perdeu para a Hungria, em 54, porque pisou o gramado com o complexo de "vira-lata", ainda sob o peso da derrota de 50 para o Uruguai. E por que Pelé se recusou a integrar o selecionado de 74 no Mundial da Alemanha? Ele tinha feito uma brilhante Copa de 70, no México, estava em plena forma técnica, em 66, na Copa afanada pela Inglaterra, campeã com um gol que n jogava no Santos e logo depois foi pro Cosmos, nos Estados Unidos. Apesar das insistentes ameaças do presidente da FIFA, João Havelange, e Médici, Presidente da República, Pelé se recusou a jogar em 74 e nunca declarou o motivo - nem ao menos alegou o popular "foro íntimo", no que fez muito bem. Penso que ele desistiu de voltar a jogar na Europa depois de ter sido massacrado impiedosa e covardemente pelos nossos fraternos irmãos portugueses, em 66, na Copa afanada pela Inglaterra, campeã com um gol que não houve contra a Alemanha.

Arthur Carvalho, do Instituto Histórico de Olinda

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

Tags

Autor