Opinião

A pandemia de covid-19 e a desumanidade

"Já vi muita coisa nesse mundo, mas não pensei que veria pessoas torcendo abertamente contra uma vacina por razões políticas". Leia a opinião de Sérgio Gondim

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SÉRGIO GONDIM

Publicado em 20/08/2021 às 6:06 | Atualizado em 20/08/2021 às 7:51
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Quando foi demonstrada a maior incidência de tromboses contribuindo para morte de pacientes com covid-19, supôs-se que o tratamento com anticoagulantes seria suficiente. Estudos observacionais preliminares sugeriram que sim e os especialistas foram as redes sociais apelando para que os colegas adotassem a conduta. O tempo passa e a ciência com sua beleza e rigor mostrou que não é bem assim. Estudos agora publicados no The New England Journal of Medicine, envolvendo dezenas de universidades e hospitais do mundo, inclusive do Brasil, demonstraram que a anticoagulação plena é "fútil" e talvez faça mal quando prescrita em casos graves, podendo ser efetiva em casos moderados.

Esse é um exemplo, para quem pensa que tudo em medicina é simples, lógico e direto, como se qualquer vitamina tivesse a capacidade de "melhorar a imunidade".

O vírus mostrou ao mundo que é preciso ter humildade, principalmente diante do desconhecido.

Mais de 280 vacinas contra a covid-19 estão em desenvolvimento no mundo em diferentes plataformas e as de vírus inativados são armazenadas e transportadas com maior facilidade. Essa é uma boa razão para torcer por elas, pois se pensamos o mundo como habitados por seres humanos iguais, mas sabendo que não são tão iguais assim, os países mais pobres e longínquos dependerão da logística para ter a vacinação.

Já vi muita coisa nesse mundo, mas não pensei que veria pessoas torcendo abertamente contra uma vacina por razões políticas, sendo capazes de vibrar quando é apontada uma possível desvantagem, mesmo havendo prejuízo para população.

Enquanto isso, nos USA sobram vacinas e desinformação orquestrada sobre elas. As crianças arcam com as consequências da epidemia de notícias falsas e agora são vítimas de 20% dos mais de 100.000 casos por dia naquele país, com muitas formas graves. Um infanticídio.

Até o vírus se envergonha da humanidade.

Alguém pode querer nadar no mar à frente da igrejinha de Piedade, mesmo alertado do risco, assim como pode botar na cabeça que vai receber um chip junto com a vacina, se recusando a tomá-la, comprometendo o benefício coletivo.

Os que mergulham na área proibida correm risco individual e mesmo assim estão sendo conduzidos para delegacia como tem que ser. Os que não se vacinam e desprezam a prevenção trazem o tubarão para atacar outras pessoas na sua casa, no ambiente de trabalho ou no transporte coletivo.

Em nome da saúde pública, deveriam ficar isolados com tornozeleira eletrônica ou camisa de força.

Sérgio Gondim, médico

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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