Opinião

Reabrir escolas de forma segura

"Os efeitos brutais da pandemia sobre o aprendizado e as desigualdades educacionais não são algo facilmente mitigável". Leia a opinião de Priscila Cruz

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Priscila Cruz

Publicado em 23/08/2021 às 6:47
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A rede pública de ensino de Pernambuco está voltando aos poucos às aulas presenciais - inicialmente de forma híbrida e com rodízio de estudantes. Depois de um semestre 100% online, a volta gradual é uma excelente notícia. Mas sabemos que ainda existe um grande desafio pela frente. Daí uma missão dada desde já aos gestores públicos pernambucanos: acelerar o processo de reabertura das escolas de forma ampla, tanto na rede estadual quanto nas municipais, e também de maneira segura, gradual e efetiva neste segundo semestre.

O chamado vale para o governador, prefeitos, secretários de Educação e Saúde, gestores educacionais, professores, parlamentares - toda e qualquer pessoa que esteja preocupada com o presente dos alunos e o futuro do Estado.

Os efeitos brutais da pandemia sobre o aprendizado e as desigualdades educacionais não são algo facilmente mitigável. Organizações como Unesco e Unicef têm apontado as múltiplas dimensões do impacto, como perdas de aprendizagem, riscos de abandono escolar e consequências psicossociais. Os prejuízos não devem ser vistos como irrecuperáveis, mas há muito trabalho a fazer.

Acelerar o retorno às aulas presenciais de forma gradual, segura e efetiva, portanto, é a missão que deve unir a todos - e a tarefa vai muito além da reabertura pura e simples. Pesquisadores ligados à Rede de Pesquisa Solidária, da Universidade de São Paulo (USP), divulgaram estudo que identificou lacunas em protocolos estabelecidos para a retomada das aulas presenciais ao redor do país. Eles concluíram que a falta de coordenação entre o governo federal e os que estão na linha de frente do combate ao coronavírus levou muitos governadores e prefeitos a investir em políticas pouco eficazes. Pernambuco obteve nota 76 (no máximo de 100), a segunda melhor nota no país.

Apesar do ótimo resultado, é fundamental a adoção de algumas premissas:

1. Aceleração da vacinação dos professores. Como em diversos Estados, Pernambuco avançou na vacinação dos profissionais de educação de maio para cá, e ainda que não deva ser entendido como condicionante para o retorno, isso é aspecto fundamental dado o contexto atual e para aumentar a segurança e a confiança da comunidade escolar.

2. Foco na organização e na implementação dos protocolos sanitários já conhecidos, como distanciamento social, uso de máscaras específicas, disponibilização de álcool em gel, ventilação, sanitização dos ambientes, além de monitoramento e rastreamento dos casos.

3. Reconhecer a inadequação de algumas escolas dentro das redes de ensino e prepará-las para tal. Essa inadequação, todavia, não pode imobilizar o avanço onde já existem condições de infraestrutura. Acima de tudo, exige que governos estaduais e prefeituras iniciem reformas e melhorias na infraestrutura escolar nos locais ainda não adequados.

4. Não basta apenas reabrir as escolas, é preciso que a resposta educacional seja contundente. Há um conjunto de respostas necessárias, como a busca ativa por alunos, estratégias de acolhimento e recuperação de aprendizagem, e atenção especial a alunos mais pobres e em situação de vulnerabilidade.

5. Coordenação e cooperação entre estados e municípios. Se é uma regra de ouro para a melhoria de políticas educacionais em geral, torna-se mais necessária numa crise. Isso inclui o compartilhamento de estratégias, apoio técnico e financeiro e comunicação entre lideranças políticas.

É um trabalho complexo e desafiador, mas exatamente por isso não podemos esperar o fim da pandemia, ou vermos uma população 100% vacinada.

Nós, do Todos Pela Educação, temos defendido por todo o Brasil não só a retomada dos investimentos como esta ideia-força, capaz de mover corações e mentes de Norte a Sul do país: uma reabertura das escolas de forma gradual, segura e efetiva. Uma retomada das aulas presenciais que preserve a vida e a segurança da comunidade escolar e assegure o presente e o futuro de milhões de crianças e jovens. Não há melhor e mais poderoso projeto de país do que este.

Priscila Cruz, presidente Executiva do Todos Pela Educação

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião de JC

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