O longo caminho até as eleições de 2022
Eu não sei para você, caro leitor, mas para mim o atual governo descolou de sua tarefa primordial de governar os destinos do país". Leia a opinião de Raul Jungmann
Eu não sei para você, caro leitor, mas para mim o atual governo descolou de sua tarefa primordial de governar os destinos do país. Senão, vejamos: inflação na casa dos 8.5% (grandes bancos achando que se nada for feito, dentro de 90 dias ela sairá de controle), idem a taxa Selic na virada do ano, PIB recuando 0.1% no 2º trimestre, frente ao anterior e a expectativa para o próximo ano é do dólar a R$5.20, se o orçamento não desancorar o lado fiscal da economia. A bolsa zerou todos os ganhos dos últimos meses e, desgraçadamente, deveremos chegar à casa dos 600.000 mortos pela covid-19 e a variante Delta faz a sua estreia trágica entre nós, ainda por alcançar o seu zenith. Cada vez mais se explicita um conflito entre prioridades e tende a se reduzir a cooperação entre Câmara e Senado, ou melhor, entre os presidentes das duas casas do Congresso Nacional. O indicado pelo Planalto para a vaga do Supremo, André Mendonça, bate o recorde de espera para ser sabatinado, enquanto o procurador geral, Augusto Aras, o predileto dos senadores, se aquece para entrar em campo. No empresariado, um manifesto light originado na FEBRABAN e agasalhado pela FIESP, pedindo "harmonia entre os poderes da República" (sic) gerou uma intervenção do Banco do Brasil e da Caixa Econômica. O manifesto foi embargado, mas o mal-estar permanece e tende a subir com as perspectivas da economia, as privatizações adiadas e uma reforma do IR que a (quase) todos desagrada. De longe, porém, a maior das preocupações é com a energia. Se não chover nos próximos sessenta dias - e a previsão é que não choverá mais que o pouco previsto - o racionamento será inevitável, como deixou claro o Ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, na sua fala em cadeia nacional. Enquanto isso, o Presidente se dedica a fazer motociata em pleno horário de expediente em Minas Gerais e a afirmar que a escolha entre o feijão que mata a fome e o fuzil que mata vidas, comprem a arma...
Para esse mal não há remédio, como canta João Gilberto, e para a política, por agora, também não. Daí, há que se dar integral suporte às instituições, mobilizar o maior número possível de pessoas e assegurar as eleições em 2022.
Em live, o Presidente, em resposta à minha declaração na revista Veja da semana passada sobre os caças sobrevoarem o STF, me apodou de "desqualificado" (Ministro da Defesa), porém, não me desmentiu. Sem dúvida, de qualificação sabe ele, haja visto o rumo do seu governo, como se pode ler acima.
Raul Jungmann, ex-ministro da Reforma Agrária, Defesa e Segurança Pública.
*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC