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Reflexões a quente sobre o 7 de setembro

"Pesquisas nas redes e a observação das ruas no dia 7, deixaram claro que os atos contaram majoritariamente com a chamada 'bolha' do bolsonarismo e seus aderentes". Leia a opinião de Raul Jungmann

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Raul Jungmann

Publicado em 09/09/2021 às 6:14 | Atualizado em 10/09/2021 às 1:19
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Reflexões a quente sobre o 7 de setembro:

As manifestações foram ordeiras e democráticas, quase impecáveis, não fosse a invasão da esplanada dos ministérios em Brasília, na noite anterior. A pauta, porém, era antidemocrática, no seu ataque às instituições, sobretudo ao Supremo Tribunal Federal e seus ministros

Os atos foram expressivos, inquestionavelmente. Porém, ficaram muito aquém do delírio das previsões que contavam reunir um milhão de pessoas em Brasília e dois milhões em São Paulo.

A tensão e apreensões acerca da participação dos policiais, sobretudo militares, não se verificou. Ela se deu discretamente e sem sobressaltos. Para isso contribuiu a atitude preventiva dos governadores, que procuraram auscultar as suas PMs, checar suas respectivas cadeias de comando e substituir, em alguns casos, comandos da tropa de choque.

Pouco destacada na mídia, os militares se fizeram ausentes, a exceção do Ministro da Defesa, no ato de Brasília. O que é um bom sinal, face as pressões que vem sofrendo às FFAAs para endossar os atos e falas do Presidente de constrangimento aos demais poderes

Pesquisas nas redes e a observação das ruas no dia 7, deixaram claro que os atos contaram majoritariamente com a chamada "bolha" do bolsonarismo e seus aderentes. A plateia foi formada por sobretudo, mas não exclusivamente, brancos das classes médias.

Conclusões:

Os atos não reequilibram nem desequilibram a dinâmica política em curso. Sem dúvida, são um impulso a mais na corrosão da institucionalidade, no incentivo a confrontação e um desgaste para a democracia. Claro é, deram gás ao projeto do bolsonarismo e do seu líder, ao mobilizar e manter a coesão dos seus apoiadores, num momento de queda de popularidade do Presidente.

Porém, e em troca, acentuaram o seu isolamento, em termos políticos, sociais e econômicos. Afinal, os problemas decorrentes da inflação acelerando, do desemprego, dos mais de 580.000 mortos pela pandemia, do PIB em queda, juros altos, travamento da agenda liberal e a assombração de um racionamento de energia, permaneceram intocados.

Isso aponta para a continuidade de um governo com perda crescente de governabilidade, maré montante da sociedade e das instituições, isolamento do Presidente, um cenário difícil para suas pretensões em 2022 e um longo e tumultuado caminho até lá.

Raul Jungmann, Ex-Ministro da Reforma Agrária, Defesa e Segurança Pública

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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