Reflexões a quente sobre o 7 de setembro
"Pesquisas nas redes e a observação das ruas no dia 7, deixaram claro que os atos contaram majoritariamente com a chamada 'bolha' do bolsonarismo e seus aderentes". Leia a opinião de Raul Jungmann
Reflexões a quente sobre o 7 de setembro:
As manifestações foram ordeiras e democráticas, quase impecáveis, não fosse a invasão da esplanada dos ministérios em Brasília, na noite anterior. A pauta, porém, era antidemocrática, no seu ataque às instituições, sobretudo ao Supremo Tribunal Federal e seus ministros
Os atos foram expressivos, inquestionavelmente. Porém, ficaram muito aquém do delírio das previsões que contavam reunir um milhão de pessoas em Brasília e dois milhões em São Paulo.
A tensão e apreensões acerca da participação dos policiais, sobretudo militares, não se verificou. Ela se deu discretamente e sem sobressaltos. Para isso contribuiu a atitude preventiva dos governadores, que procuraram auscultar as suas PMs, checar suas respectivas cadeias de comando e substituir, em alguns casos, comandos da tropa de choque.
Pouco destacada na mídia, os militares se fizeram ausentes, a exceção do Ministro da Defesa, no ato de Brasília. O que é um bom sinal, face as pressões que vem sofrendo às FFAAs para endossar os atos e falas do Presidente de constrangimento aos demais poderes
Pesquisas nas redes e a observação das ruas no dia 7, deixaram claro que os atos contaram majoritariamente com a chamada "bolha" do bolsonarismo e seus aderentes. A plateia foi formada por sobretudo, mas não exclusivamente, brancos das classes médias.
Conclusões:
Os atos não reequilibram nem desequilibram a dinâmica política em curso. Sem dúvida, são um impulso a mais na corrosão da institucionalidade, no incentivo a confrontação e um desgaste para a democracia. Claro é, deram gás ao projeto do bolsonarismo e do seu líder, ao mobilizar e manter a coesão dos seus apoiadores, num momento de queda de popularidade do Presidente.
Porém, e em troca, acentuaram o seu isolamento, em termos políticos, sociais e econômicos. Afinal, os problemas decorrentes da inflação acelerando, do desemprego, dos mais de 580.000 mortos pela pandemia, do PIB em queda, juros altos, travamento da agenda liberal e a assombração de um racionamento de energia, permaneceram intocados.
Isso aponta para a continuidade de um governo com perda crescente de governabilidade, maré montante da sociedade e das instituições, isolamento do Presidente, um cenário difícil para suas pretensões em 2022 e um longo e tumultuado caminho até lá.
Raul Jungmann, Ex-Ministro da Reforma Agrária, Defesa e Segurança Pública
*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC