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O Albert Camus de Lucilo Varejão Lucilo Varejão Neto

"O Presidente da Academia Pernambucana de Letras, Lucilo Varejão Neto, um dos maiores especialistas em literatura francesa entre nós, acaba de me enviar um capítulo de seu próximo livro tratando da obra, das ações e do pensamento de Camus, visivelmente uma de suas grandes paixões intelectuais". Leia a opinião de Flávio Brayner

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FLÁVIO BRAYNER

Publicado em 14/09/2021 às 6:05 | Atualizado em 15/09/2021 às 3:46
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Na correspondência que Hannah Arendt manteve com Karl Jaspers, fica claro que ela não gostava muito de Sartre, embora reconhecesse seu brilhantismo intelectual, mas tinha uma enorme admiração por Albert Camus (1913-1960), o grande escritor franco-argelino. Dos três grandes eventos que fraturaram a sociedade francesa no século XX - o Caso Dreyfus (1894-1906), a Ocupação Nazista (1941-1944) e a Guerra da Argélia (1954-1962)- Camus esteve presente nos dois últimos e assumiu posições que iriam produzir adesões e antipatias viscerais. Além disso, sua denúncia dos crimes do Stalinismo assim como a crítica ao apoio das democracias européias ao Franquismo são exemplos que expressam o caráter e a sensibilidade política e intelectual do autor de "O Estrangeiro".

O Presidente da Academia Pernambucana de Letras, Lucilo Varejão Neto, um dos maiores especialistas em literatura francesa entre nós, acaba de me enviar um capítulo de seu próximo livro tratando da obra, das ações e do pensamento de Camus, visivelmente uma de suas grandes paixões intelectuais. O Professor Lucilo defende uma "tese" muito interessante a respeito do "HUMANISMO MEDITERRÂNEO" de Camus, quer dizer, seu vínculo com uma tradição filosófica iniciada na Grécia Antiga que alia corpo e espírito, e resgata a presença desta tradição em seus ensaios, peças e romances sobre a condição do homem moderno: sua revolta, o absurdo da existência, a denúncia da opressão - de esquerda e de direita- e mostra, sobretudo, como sua incansável luta pela "felicidade coletiva" se transformou numa verdadeira paixão política e intelectual! Não se trata da felicidade que pode ser proporcionada até pelos "paraísos artificiais" de que falava Baudelaire (outra paixão de Lucilo!): trata-se daquela Felicidade só alcançável pela revolta contra todas as formas insidiosas de dominação e só realizável plenamente, como "felicidade coletiva", no interior da LIBERDADE.

Li apenas um capítulo do livro de Lucilo Varejão, mas através dele já é possível vislumbrar a obra inteira: a elegância da escrita, a erudição literária, a profundidade do tratamento, a enorme atualidade de tratar de um autor que se recusou a aceitar que a injustiça, a dominação colonial, ou a indignidade praticada pelos regimes totalitários se tornassem "banais", fazem do livro de Lucilo Varejão uma obra mais do que contemporânea: faz dela um ALERTA para o nosso tempo!

Flávio Brayner, professor titular da UFPE

 

 *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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