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Quem tem medo da inflação?

A inflação quando alta e persistente compromete o funcionamento do sistema de preços, dificultando o planejamento de empresas e famílias

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JORGE JATOBÁ

Publicado em 21/09/2021 às 6:00
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A inflação quando alta e persistente compromete o funcionamento do sistema de preços, dificultando o planejamento de empresas e famílias. Ela também cria ilusão monetária sobretudo para os governos porque as receitas nominais são aumentadas na boca do caixa enquanto o valor real das despesas é reduzido segurando as saídas do tesouro. A inflação penaliza os mais pobres, especialmente em uma economia parcialmente desindexada, porque retira o poder de compra da renda, em geral, mas especialmente dos rendimentos do trabalho. Nos últimos doze meses a perda real da massa salarial foi de aproximadamente 6,0%.

A inflação está rodando nos últimos doze meses em 9,68%, devendo atingir dois dígitos no próximo mês, se aproximado das taxas inflacionárias observadas em 2016. Para piorar, as expectativas inflacionárias não estão mais ancoradas no centro da meta e do seu intervalo de tolerância (3,75%, mais ou menos 1,5%) para 2021 o que deve conduzir o Banco Central a elevar a taxa básica de juros em mais de 1 ponto percentual na reunião do COPOM que se realizará amanhã. Elevação da taxa de juros no contexto de previsões decrescentes de crescimento para este ano (em torno de 5,0%) e no próximo (menos de 1,5%) conduz o país à sombra do estagflação, uma combinação perversa de alta inflação com baixo crescimento econômico, gerando um indesejável ciclo vicioso do qual não é fácil escapar. Mercado e governo já preveem, com algum otimismo, que a inflação no final de 2021 se situará um pouco acima dos 8,0% com a Selic alcançando patamar superior.

Preocupa adicionalmente que as expectativas de inflação pelo BACEN para 2022 (3,75%) já se situem acima da meta de inflação para aquele ano (3,5%) embora dentro do intervalo de variação de 1,5% para cima ou para baixo. A conferir!

Para que haja nova ancoragem com as expectativas convergindo para o centro da meta é necessário que política monetária e política fiscal caminhem juntas. O Banco Central, agora independente, não pode tudo. Se o Governo Bolsonaro escorregar para um populismo fiscal de caráter eleitoral, a inflação, com todas as suas repercussões negativas não vai ceder. Se índice de contaminação de preços, agora em 72%, se manter elevado e se a inercia inflacionária, processo pelo qual a inflação passada contamina a futura se aprofundar, o controle da inflação vai ficar muito difícil. A questão fiscal que envolve o respeito ao teto no orçamento de 2022 e a negociação sobre o adiamento de parte dos precatórios devidos naquele ano são centrais para definir o futuro da inflação, monstro devorador do sistema de preços e da estabilidade macroeconômica. Não subestimemos a inflação e tenhamos medo dela. Incontrolada, ela é implacável.

Jorge Jatobá, doutor em Economia

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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