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É natural que líderes políticos acertem e errem. O que não é normal é o endeusamento

"É querer caminhar com um deus a seu lado chamando de seu, sem enxergar os pecados, sofrendo bloqueio mental da análise crítica, negando o óbvio, elogiando o absurdo, adotando automaticamente teses despropositadas e mentiras". Leia a opinião de Sérgio Gondim

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SÉRGIO GONDIM

Publicado em 24/09/2021 às 6:15
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A natureza humana envolve uma química complexa com seres da mesma espécie, mas muito diferentes e mutantes. Inúmeras tendências, nem sempre favoráveis, são transmitidas geneticamente e, sobrepondo-se à genética, as circunstâncias da vida moldam a visão de mundo e o comportamento de cada um. A harmonia ou desarmonia do lar, os ganhos e perdas, o afeto ou a falta dele, os exemplos, as oportunidades, desaguam na forma de pensar e agir. Alguns se tornam mais egoístas, intolerantes, fanáticos ou descrentes. Outros, invejosos, mentirosos ou ambiciosos. Podem ser mais descontraídos, solidários, pacifistas, exibicionistas, otimistas ou pessimistas. Podem primar pela honestidade ou enxergar mérito na competência para fraudar. Muitos já nascem no meio do crime e seguem carreira. Tem os que resultam tímidos ou extrovertidos, preguiçosos ou batalhadores, ingênuos, oportunistas ou bajuladores. Alguns são treinados desde o nascimento para destruir o meio ambiente ou explorar os mais pobres, a não respeitar as escolhas dos outros, tentar fazer prevalecer a opinião pela força, atropelar as leis ou aproveitar as madrugadas para passar a boiada.

Nesse cenário de tamanha diversidade, a unanimidade é impossível e as escolhas são feitas pelo voto da maioria, vigilantes, pois existem os que preferem escolher sem eleições. Quando não dá certo, pode-se mudar na próxima ou, se a pisada de bola for feia, convida-se a sair antes da hora, de acordo com as regras. Aliás, ao entrar, os governos já vão se articulando para ter maioria e evitar o impeachment. Prestam favores ou compram com dinheiro mesmo.

É natural que líderes políticos acertem e errem. É normal que o seu desempenho seja analisado, independente da paixão política.

O que não é normal é o endeusamento. É querer caminhar com um deus a seu lado chamando de seu, sem enxergar os pecados, sofrendo bloqueio mental da análise crítica, negando o óbvio, elogiando o absurdo, adotando automaticamente teses despropositadas e mentiras, acatando prescrição médica feita por políticos, retirando a máscara no auge da pandemia, espelhando personalidades perturbadas, dizendo uma coisa e fazendo outra, radicalizando raivosamente, como quem inconscientemente busca compensar os cascudos recebidos desde a infância por ter frustrado expectativas.

Aí é patológico e está no CID.

Ainda bem que, mesmo com tantos casos, os portadores de tais distúrbios ainda são minoria e é a maioria que decide eleições.

Sérgio Gondim, médico

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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