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Será que a sociedade brasileira efetivamente acredita que educação é prioridade?

"Questionamento do professor e superintendente do Instituto Itaú, Ricardo Henriques, no painel Desigualdade Social, Educação e Democracia, no Seminário Novo Rumo, num debate com o economista Ricardo Paes de Barros e o ex-ministro Cristovam Buarque, é forte e inquietante". Leia o artigo de Mendonça Filho

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MENDONÇA FILHO

Publicado em 25/09/2021 às 6:08
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Será que a sociedade brasileira efetivamente acredita que a educação é uma prioridade? O questionamento do professor e superintendente do Instituto Itaú, Ricardo Henriques, no painel Desigualdade Social, Educação e Democracia, no Seminário Novo Rumo*, esta semana, num debate com o economista Ricardo Paes de Barros e o ex-ministro Cristovam Buarque, é forte e inquietante. A pergunta forte e em tom de desânimo expressa um grito de alerta. O diagnóstico educacional é trágico e as perspectivas efetivas de soluções apontam: para o Brasil virar a chave e não ficar para trás na sociedade do conhecimento é preciso um pacto social pela educação.

Apesar dos avanços, nossa educação continua enredada numa agenda do século passado. Ainda não resolvemos creche para todos, mais de 50% das crianças concluem o 3º ano do fundamental com alfabetização inadequada - no Nordeste atinge o vergonhoso patamar de 70%. Destaco, ainda, a reflexão de Cristovam Buarque sobre o "analfabetismo contemporâneo" gerado pela brecha entre o que a escola ensina e o que as pessoas precisam saber numa sociedade disruptiva, que vive uma transformação radical no mundo do trabalho. Não basta saber ler e escrever.

Enquanto isso, países que pactuaram pela educação como vetor de desenvolvimento navegam em pautas da sociedade do conhecimento, incluindo seus jovens como protagonistas da 4ª revolução industrial. O Brasil não conseguiu pactuar uma agenda social, especialmente da educação. Minha geração conviveu por décadas com a inflação que puniu os brasileiros, principalmente os pobres. Vencemos a inflação com o Real. A educação precisa de um "plano real". Diferente da inflação, que dependia de política de governo, a educação depende do conjunto da sociedade, independente de coloração partidária e de visão de mundo.

A defesa de um pacto social pela educação não é nova. Diante da velocidade com que outros países caminham, em contraponto ao nosso ritmo, essa pactuação da sociedade brasileira está atrasada. Contrariando Nelson Rodrigues, é uma unanimidade sábia, que o pacto social pela educação é para hoje! O professor Ricardo Henriques destacou que na Educação o Brasil está longe da fronteira com outros países. Como a fronteira se move em velocidade maior do que a nossa, o fosso tende a se abrir.

"Se a educação não se transformar numa prioridade, estaremos assinando o passaporte para estar fora da primeira liga mundial", alertou, ao defender um acordo social focado num projeto de educação pública de qualidade para todos de excelência com equidade. Insisto. A educação só dará um salto de qualidade for agenda prioritária do país, dividindo em pé de igualdade espaço com a economia e a política.

*O Seminário Novo Rumo foi promovido pelos institutos e fundações partidárias do Democratas, MDB, PSDB e Cidadania para debater temas de interesse do Brasil e está disponível no Youtube.

Mendonça Filho, ex-ministro da Educação e consultor da Fundação Lemann.

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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