Será que o Brasil tem consciência plena do tamanho e da profundidade da tragédia?
"Encontrássemos o caminho da terceira. via... Eureka!. Eleito um governo decente e sustado o fluxo de danos, trabalharíamos pela reconstrução do País, penosa. Delirar não é proibido..."
Se fôssemos estimar em termos monetários, e como proporção do PIB, já seria enorme o custo econômico-social líquido do atual desgoverno corrosivo. Seria 1%, 3%, 5%, mais? Mas, pra que pensar em tal medida? Temos que ir além da economia. Amazônia, Saúde, Educação, Segurança (política declarada de armamento da população, à moda do venezuelano Hugo Chaves), manutenção de elevados níveis de desemprego e de subutilização da mão de obra. Desídia no tratamento das antevistas crises hídrica e energética. Corrosão de instituições democráticas. Agressão a direitos civis. Incremento em estresse, angústia, desalento. E isso em termos imediatos, correntes. E o custo prospectivo que decorrerá dessa via de destruição? Só o que se perde em Educação já nos acrescentará muitos preciosos anos de atraso. A grandeza dos danos é incomensurável.
Em cima de queda, o coice da inflação. De janeiro a agosto 2020, o IPCA miou: 0,70% - acumulado. Resultado de duplo choque (de oferta e de demanda) trazido pela pandemia. Nos quatro meses de fechamento do ano, grande aceleração (3,79%) - decorrente da expansão fiscal para enfrentamento da Covid-19, levando aos 4,52% do IPCA de 2020. Mas, neste 2021 a má-governança assumiu cores mais fortes e o quadro fiscal piorou, abalando a confiança dos agentes econômicos. O Real ganha lugar destacado, no mundo, em desvalorização. O câmbio pressiona preços. Vem o aumento de preços de produtos administrados (combustível e energia - via câmbio e crise hídrica). O IPCA acelerado veio a 5,67% nos oito meses até agosto (0,69% ao mês, média). O Banco Central projeta IPCA de 8,45% em 2021 - o que exigiria média mensal de 0,65% até 31/12, já difícil. Mas o IPCA-15 (prévia do IPCA) ficou, neste setembro, em 1,14%. Se o IPCA chegar a 1,0% neste mês, a média mensal no trimestre final deverá, para respeitar a projeção, não ir além de 0,53%. Aposta heroica. Talvez inflação de 9,0% em 2021. Ou bem mais.
Será que a Nação tem consciência plena do tamanho e da profundidade da tragédia? Talvez não. O lento cair da ficha sempre se impõe. Não se percebe que a tragédia e o porvir estão sendo subestimados. Se vivêssemos sob um regime parlamentarista (difícil imaginar que algo assim viceje no Brasil), o presidente já teria sido democraticamente substituído. Mas, a ficha do impeachment, saída democrática em nosso presidencialismo, não caiu. Demora e poderá não cair. Teria que cair a macro ficha da "consciência plena". Encontrássemos o caminho da 3ª. via... "Eureka!". Eleito um governo decente e sustado o fluxo de danos, trabalharíamos pela reconstrução do País, penosa. Delirar não é proibido...
Tarcisio, Economista, Professor aposentado (UFPE), Consultor.
AIP, considerada uma das mais importantes associações de imprensa do Brasil