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A Segunda Guerra Mundial e a prevenção cardiovascular

"Afinal, o que as doenças cardiovasculares têm a ver com a nefasta Guerra?". Leia o artigo de Antônio Carlos Sobral Sousa

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ANTÔNIO CARLOS SOBRAL SOUSA

Publicado em 29/09/2021 às 6:16
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No início do século XX, as doenças cardiovasculares, notadamente o Derrame e o Infarto do Miocárdio, eram responsáveis por menos de 10% de todas as causas de morte nos EUA, passando para 25% nos anos 40 e, aproximadamente, 40%, na década de 60. A partir de 1980, com a implementação mais rigorosa de políticas públicas de controle dos fatores de risco cardiovasculares, passou-se a registrar declínios significativos, da mortalidade por tais doenças, atingindo o patamar de, aproximadamente 32%, segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS.

O Brasil acompanhava, atônito, os desdobramentos de um dos maiores massacres da humanidade, a 2ª Guerra Mundial, sem tomar uma posição declarada até que, no dia 15 de agosto de 1942, o submarino alemão U-507, comandado pelo capitão de fragata, Harro Schacht, torpedeou, no litoral sergipano, as embarcações Baependi (270 mortos) e Araraquara (131 mortos); no dia seguinte, foi a vez do Aníbal Benévolo (150 mortos). No dia 17 de agosto, outros dois navios foram atacados, Itagiba e Arará, na costa da Bahia, vitimando mais 56 pessoas. Naquela época, a precariedade das estradas e a escassez de linhas férreas faziam da cabotagem um eficaz meio de transporte de mercadorias e de passageiros. Portanto, a significativa morte de civis, provocada pelos covardes ataques nazistas, causou uma grande comoção nacional, forçando o então presidente, Getúlio Vargas, a declarar guerra contra os países do Eixo – grupo formado por Alemanha, Itália e Japão.

Afinal, o que as doenças cardiovasculares têm a ver com a nefasta Guerra? O grupo dos Aliados, ao qual o Brasil aderiu, tinha como principais líderes, Winston Churchill (Primeiro-Ministro da Inglaterra), Franklin Roosevelt (Presidente dos EUA), Charles De Gaulle (Líder da Resistência Francesa) e Josef Stalin (Líder da União Soviética). Logo após o término do conflito, em abril de 1945, o Presidente Roosevelt, tabagista e hipertenso, morre, aos 63 anos, vítima de AVC. No dia do fatídico evento, a sua pressão arterial estava absurdamente elevada (300/190 mmHg), para o conhecimento atual! Todavia, naquela época, era desconhecido o risco causado pela hipertensão arterial, como pode ser constatado pela análise do prontuário do presidente, que evidenciava níveis tensionais persistentemente acima de 140/100 mmHg e era interpretado, pelo seu médico particular, como “normal para um homem da sua idade”.

Impulsionado pela morte de seu antecessor e à luz do crescimento epidêmico das doenças cardiovasculares, o Presidente Truman cria, um junho de 1948 o National Heart Institute e nomeia o prestigiado professor da Harvard, Dr. Paul Dudley White, como Chefe do Conselho Consultivo Nacional do Coração. Dr. White, juntamente com outros especialistas em Cardiologia e em Saúde Pública, escolheram, engenhosamente, a cidade de Framingham, localizada próximo a Boston, para sediar aquele que viria a ser um dos mais importantes estudos de Medicina preventiva, “The Framingham Heart Study”, com o objetivo de estudar as doenças cardiovasculares. Os investigadores recrutaram, inicialmente, 5.209 homens e mulheres sadios que foram seguidos, rigorosamente, tanto do ponto de vista clínico como de exames complementares. Após um ano de relativo descrédito, assumiu a diretoria do programa, o jovem Dr. Thomas Dawber que conseguiu, com empatia e credibilidade, consolidar o estudo, que continua até os dias atuais, já na terceira geração de participantes.

Em 1961, Dr. William Kannel, Dr. Dawber e col., publicaram, no prestigiado periódico Annals of Internal Medicine, o artigo “Fatores de Risco para o Desenvolvimento da Doença Arterial Coronária: O Estudo de Framingham”. Neste artigo, os autores chamaram a atenção, pela primeira vez, para a associação causal entre a Hipertensão Arterial, a Dislipidemia, o Tabagismo, a Diabetes, a Obesidade, o Sedentarismo, o envelhecimento e o antecedente familiar com as doenças cardiovasculares. Além de incontáveis produções científicas, as investigações advindas do referido Estudo, geraram, também, um escore de predição do risco cardiovascular, amplamente utilizado. O legado do Framingham Heart Study continua com pesquisas de ponta em genômica, em validação de novos biomarcadores e ferramentas de imagem e em investigação de causas familiares das doenças cardiovasculares. Finalizo, parafraseando o Prof. Dr. Paul D. White: “Uma caminhada vigorosa de cinco milhas (aproximadamente 8km), fará mais benefício para um adulto infeliz, porém, saudável, do que qualquer terapia medicamentosa e psicológica disponível”.

Antônio Carlos Sobral Sousa, Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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