ARTIGO

A Sociedade de Clínica Médica de Pernambuco

"Depois de quase perder a fé, desacreditar no futuro, lamentar o tempo perdido e ver o mundo desabar, assisti a primeira reunião da Sociedade de Clínica Médica de Pernambuco, em sua versão atual". Leia o artigo de Sérgio Gondim

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SÉRGIO GONDIM

Publicado em 08/10/2021 às 6:04
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Depois de tantas emoções negativas, tanto sofrimento e decepções, tantas perdas, tristeza e dor, depois de sentir vergonha da classe, alguma coisa boa aconteceu. Depois de quase perder a fé, desacreditar no futuro, lamentar o tempo perdido e ver o mundo desabar, assisti a primeira reunião da Sociedade de Clínica Médica de Pernambuco, em sua versão atual. Já nem lembrava mais como é sentir uma emoção boa. Veio como oxigênio para quem estava mal saturado, como extubação para o pulmão inflamado, um pulso palpável no estado de choque. Chegou como vacina no braço, trazendo esperança para debelar o mal.

Muitos compareceram, presencial ou remotamente como eu. Foi apresentado um caso para discussão, nos moldes da famosa reunião semanal do Massachussetts General Hospital, aliás, melhor do que muitas delas. Não faltou nada para o diagnóstico e tratamento de um paciente complexo e grave que esteve batendo na trave da morte muitas vezes, mas foi ressuscitado como milagre por um conjunto de providências, muito estudo e união de esforços. Um exemplo! Saiu fagueiro, deixando ensinamentos e a dúvida se retomaria ao velho hábito de ingerir duas latinhas de aguardente por dia, fato que certamente contribuiu para se apresentar tão gravemente enfermo.

Ao contrário do que superficialmente muitas vezes se pensa, os clínicos mais jovens estão bem-preparados, estudam, superam com garra as dificuldades operacionais e a escassez de recursos. Dá gosto ver.

Houve uma época em que a porta de entrada no sistema de saúde se dava através da consulta ao especialista. Há meio século, os americanos perceberam que, por essa via, não se promovia saúde tanto quanto se começasse pelo generalista. Investiram na formação dos clínicos, melhoraram os índices de saúde do país e ainda economizaram, claro, afinal são americanos. Hoje, mais do que entrada, existe um fluxo invertido, dos especialistas para o clínico, integrando e otimizando o atendimento.

Ficou para trás o conceito de que o clínico era o médico que "não deu para nada". Hoje, tem uma forma diferenciada de raciocinar e treinamento para casos simples e complexos, temperados pela informatização e organização do conhecimento médico, literalmente na palma da mão.

Na reunião foram discutidos aspectos importantes para o aprendizado na Residência Médica e no final, assistimos uma carinhosa homenagem ao mais jovem entre todos, o mais inspirador, brilhante e formador: Chicão.

Pela escolha do exemplo e homenageado, acho bom prestar atenção à geração que está saindo do forno.

Sérgio Gondim, médico

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

 

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