Padecemos da falta de lideranças que corajosamente ombreiem conosco
"É fácil identificar a ausência de virtudes em algumas personalidades que se prontificaram a assumir encargos de orientar o país. Demérito que os impossibilita de tomar em suas mãos nosso destino. Esfarelou-se a confiança". Leia a opinião de Otávio Santana do Rêgo Barros
A velha e romântica cavalaria inspirou damas, poetas e pintores por histórias pitorescas, façanhas em batalhas e exemplos de seus líderes.
Desde Ricardo, Coração de Leão, a Osório, Marquês do Herval, guerreiros ilustres dessa quase religião, a conhecemos como arma ligeira, dos horizontes largos e profundos.
Opera afastada da massa de tropa, atua com rapidez e decide com flexibilidade. Desdobra suas ações, operando pela finalidade.
No passado, ao toque de CARGA! os ginetes esporeavam seus cavalos contra o inimigo firmando lança e espada. Olvidavam riscos pela honra de servir, princípio com o qual trançava suas malhas.
Por anos usamos o manual C 2-50, a "bíblia da cavalaria", elaborado na simplicidade da época (1950) para definir a instrução do soldado. O combate moderno o aposentou. Esgotado até em sebos, é uma relíquia.
Fatos divulgados nessa semana me fizeram buscar a velha "bíblia" para ler sobre O MORAL. Um escrito de rara beleza que poderia inspirar câmbio em lideranças fingidas.
"O valor moral dos quadros (militares responsáveis pela instrução aos recrutas) é o elemento essencial da confiança que eles inspiram à tropa. É preciso que o instrutor e chefe pratique as virtudes que tem obrigação de despertar e cultivar no soldado e que tenha sempre presente que nenhum ensino verbal poderá substituir - O EXEMPLO."
"A confiança nos chefes decorre da ação educativa resultante de seus atos onde revelam o valor profissional, a justiça nos julgamentos e a DIGNIDADE MORAL DO SEU VIVER."
"A tropa é o reflexo do chefe [...] Só o instrutor exigente consigo mesmo poderá exigir dos seus instruídos um esforço máximo."
É fácil identificar a ausência de virtudes em algumas personalidades que se prontificaram a assumir encargos de orientar o país. Demérito que os impossibilita de tomar em suas mãos nosso destino. Esfarelou-se a confiança.
Padecemos da falta de lideranças que corajosamente ombreiem conosco - sociedade - e corram os mesmos riscos de vida na peleja por transformar e salvar o país.
Permanecer na terceira linha da formação, sob o argumento de que mais afastado, mais visão do campo de batalha, é covardia. Quanto mais à retaguarda, mais rapidamente esses maus condottieri volverão a montada e galoparão rumo a seus castelos adamascados em ouro. E os subordinados? Alija-os nas valas para serem sangrados e pilhados por inimigos. Mais tarde, cinicamente, se valerão de Cervantes para justificar: "não foge quem se retira." E há quem acredite. Paz e bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão R1
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