ARTIGO

O mundo está acometido por pandemia de raiva, transmitida principalmente pelas redes sociais

"O raivoso não tolera opiniões ou opções diferentes, sofre de complexo de inferioridade, mas gosta de humilhar os mais fracos enquanto se ajoelha perante os poderosos". Leia o artigo de Sérgio Gondim

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SÉRGIO GONDIM

Publicado em 05/11/2021 às 6:06
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Se a vacina contra o vírus da raiva fizesse parte da rotina para os humanos, estaria indicada em todas as faixas etárias, pois o mundo está acometido por uma pandemia dessa doença. Os casos têm aumentado em todos os continentes e a contaminação ocorre por várias vias, não por mosquitos ou espirros, mas principalmente pelas redes sociais. É uma doença perigosa, cheia de variantes.

Existe a raiva gratuita, a raiva contida ou agressiva, a raiva explícita, invejosa, triste, frustrada, maldosa e a impiedosa.

O raivoso não tolera opiniões ou opções diferentes, sofre de complexo de inferioridade, mas gosta de humilhar os mais fracos enquanto se ajoelha perante os poderosos. Nas crises, contrai os músculos masseteres, diminui a fenda palpebral, expressa um brilho agressivo no olhar e uma pequena ruga frontal se acentua. É um aspecto típico, uma marca, assim como a perda de olfato e paladar na Covid 19.

Sofre também distorção da visão que passa a ser uni dimensional, sem enxergar erros nem crimes ao seu redor. Além disso, perde a capacidade de pedir perdão.

O portador costuma declarar amor pela democracia, mas é amante de ditaduras. Gosta de armas de fogo, mas frequenta os templos religiosos onde prega paz, tradição e família. A ciência ainda não decifrou o verdadeiro merecedor de suas preces, nem o teor das conversas com o seu Deus, na solidão dos pensamentos.

A raiva, curiosamente, parece acometer mais os republicanos do que os democratas americanos o que pode ser um problema, pois as estatísticas mostram que coincidentemente apenas 58% daqueles aceitam vacinas, enquanto 90% dos últimos as procuram. Como consequência atrapalham o controle de doenças, prolongam e aumentam a circulação de vírus evitáveis. Circulando mais, o risco de mutações é maior, desaguando em retrocesso na prevenção de muitas viroses. O sarampo que o diga.

O raivoso dorme com a certeza de que não terá um chip implantado em seu corpo pela seringa da vacina e sem perceber que esse delírio faz parte do quadro clínico.

Se a vacina contra a raiva humana fosse indicada para todo mundo, até mereceria pagar um dólar a quem recebesse a dose, pois os infectados se tornam contrários a todas as vacinas, torcem contra elas, postam mensagens plantando dúvidas, limitações e defeitos, sem nenhuma esperança.

A pandemia de raiva está em curva ascendente no mundo de forma ameaçadora. Para se proteger, uma boa opção seria manter distanciamento social dos infectados e instalar um bom antivírus no computador.

Sérgio Gondim, médico

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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