ARTIGO

É tempo de renovar a fé e a esperança

"É tempo de exercitar a caridade solidária e de amar ao próximo. É tempo de reconciliação e de reencontro, de oportunizar a evolução espiritual mediante uma imersão concreta na essência dos ensinamentos de Jesus". Leia o artigo de Ronnie Preuss Duarte

Imagem do autor
Cadastrado por

RONNIE PREUSS DUARTE

Publicado em 27/11/2021 às 6:00
Artigo
X

O ano era 1925. A Grande Guerra havia destruído alguns dos mais poderosos impérios conhecidos (austro-húngaro, alemão, turco e russo), mergulhando no caos os países europeus destroçados pelo conflito. O cenário era de aguda crise e geral desânimo, com as famílias sofridas pelas perdas humanas e materiais. Persistiam as disputas cegas pelo poder, trazendo medos e incertezas.

Naquele contexto histórico, o Papa Pio XI instituiu a celebração do Cristo Rei, e decidiu relembrar à cristandade o dever de procurar viver no mundo, servindo a um Reino que é de outro mundo: onde o pouco pode ser muito (Lc 21: 1-4), onde os humilhados são exaltados (Mt 23:12) e onde os últimos serão os primeiros (Mt 19:30). O sentido existencial é dado pelo exemplo de um Rei que não perseguiu riqueza e poder, mas preferiu se achegar às essoas mais simples (e até controversas) da época, e que por escolha própria enfrentou com resiliência e altivez o sofrimento, a humilhação e as zombarias, vivenciando os próprios ensinamentos.

No último domingo, com a festa do Cristo Rei relembrando a única e verdadeira soberania, a de Jesus, a Santa Igreja encerrou o ano litúrgico. Amanhã, começa um novo tempo: o Advento (do latim adventus, chegada). A Comunidade inicia a preparação para um marco divisor na história da humanidade, o Anno Domini, que inaugurou a Era Cristã com o nascimento do filho de Deus, outrora encarnado entre nós.

Sob uma perspectiva teológica, marca a nossa separação do judaísmo e um dos grandes mistérios da cristologia, quando Deus, ao se fazer homem, esvaziou-se (kenosis), assumindo a condição de servo. Sem perder a condição divina, humilhou-se a si mesmo, deu perspectivas concretas à promessa salvífica, entregando-se à morte para a remissão dos nossos pecados (Fp 2:5-8).

Neste tempo litúrgico tomado de tons arroxeados, também expectamos a segunda vinda do Salvador, que se dará no final dos tempos. Nele, somos convocados à preocupação com o próximo segundo o comando paulino, especialmente importante nos dias de hoje, onde o individualismo grassa e a crise assola: "Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade; mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros." (Fp 2:5)

É tempo de renovar a fé e a esperança. É tempo de exercitar a caridade solidária e de amar ao próximo. É tempo de reconciliação e de reencontro, de oportunizar a evolução espiritual mediante uma imersão concreta na essência dos ensinamentos de Jesus.

Ronnie Preuss Duarte, ex-presidente da OAB-PE

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

Tags

Autor