O futuro passa pela educação
"Quando comparado a países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil tem um percentual relativamente baixo de jovens de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior". Leia a opinião de Mozart Neves Ramos
Há uma relação positiva entre produtividade média do trabalhador e anos de escolaridade, que se acentua a partir dos oito anos. No caso do Brasil, cada ano de escolaridade a mais impacta em 11% a renda do trabalhador, em média. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE mostram que, para aqueles que têm curso superior e cujos pais não têm instrução, o salário médio inicial é de R$ 2.603,00.
Quando os pais têm curso superior, esse valor chega a R$ 6.739,00. Segundo o autor dessa pesquisa, o economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), o retorno da educação será tanto maior quanto maior for a educação dos pais, por causa da bagagem familiar, das conexões e da qualidade da educação.
Quando comparado a países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil tem um percentual relativamente baixo de jovens de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior, algo próximo a 21%. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é alcançar 33% até 2024, o que certamente não vai ocorrer, especialmente agora que o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) praticamente não mais existe, sem esquecer o impacto da pandemia na evasão. O Fies e o Programa Universidade para Todos (Prouni) foram, nos últimos anos, os dois propulsores do crescimento da matrícula no ensino superior pelo viés do setor privado, que detém cerca de 75% dessas matrículas. Para termos uma ideia do impacto desses dois programas, em 2010 o Brasil tinha 4,7 milhões de matrículas no ensino superior privado; em 2018, esse número passou para 6,3 milhões!
Outro segmento em que o país vai precisar fazer um grande esforço para crescer é na modalidade do ensino técnico profissionalizante. Atualmente, o Brasil tem 1,9 milhão de matrículas, mas a meta, em conformidade com o PNE, é chegar a 5,2 milhões até 2024, o que também não vai ocorrer.
Portanto, é preciso reconhecer que o Brasil vai precisar fazer um enorme esforço nas duas direções, ou seja, no crescimento das matrículas tanto no ensino superior como no técnico profissionalizante. Aqui não se aplica, portanto, a escolha de Sofia, caso o país queira efetivamente ser protagonista no cenário mundial. Recursos humanos de boa qualidade, nos dois segmentos, vão gerar enormes ganhos de produtividade, com impacto direto na redução das desigualdades sociais e econômicas.
Até pouco tempo atrás, o Brasil vinha ampliando de forma sistemática o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, o que foi decisivo para a expansão das matrículas. É preciso que isso volte a acontecer, pois, quando o comparamos com o investimento por aluno?ano praticado pelos países da OCDE, o Brasil ainda está muito aquém. Mas é também imperativo que esses recursos sejam aplicados com mais eficiência e eficácia.
Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP - Ribeirão Preto.
*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC