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A implantação de práticas conhecidas pela sigla ESG

"Significa que toda atividade empresarial deve mirar - não fiquemos apenas na palavra respeitar, porque seria retórico apenas - a proteção do meio ambiente, a responsabilidade social e as boas, corretas e transparentes regras de administração". Leia o artigo de João Humberto Martorelli

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JOÃO HUMBERTO MARTORELLI

Publicado em 02/12/2021 às 6:07 | Atualizado em 02/12/2021 às 6:57
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Ao lidar com empresas, são raros os momentos em que o advogado pode sobrepor a condição humana ou pessoal às exigências profissionais. Normalmente, o objetivo primeiro e último do empresário é o lucro, a diminuição de despesas e a minoração de riscos. E o resultado útil do serviço se traduz em honorários, terreno do lucro também. O curso da humanidade exige de todos agora, porém, uma postura nova, decisiva, e os advogados têm papel importante na implantação de práticas conhecidas pela sigla ESG - Environmental Social and Governance. Significa que toda atividade empresarial deve mirar - não fiquemos apenas na palavra respeitar, porque seria retórico apenas - a proteção do meio ambiente, a responsabilidade social e as boas, corretas e transparentes regras de administração (compliance).

Edgar Morin, em artigo publicado há alguns meses no prestigiado Le Monde, resume bem o histórico recente da humanidade. A partir da detonação da bomba atômica, que anunciava a possibilidade de fim da humanidade, tivemos o Relatório Meadows, que tratava de problemas cruciais para o futuro desenvolvimento da humanidade, tais como energia poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional. Em seguida, veio a revolução tecnológica, a globalização, o triunfo do capitalismo, desastres naturais enormes, a notável e indesejada regressão político-social com o avanço dos governos autoritários, e, por fim, a pandemia. São eventos e processos que demonstram o poder e a impotência do homem ao mesmo tempo. E continuam, não estando descartada uma guerra nuclear, o agravamento da devastação da nossa biosfera, o processo de regressão política e de neototalitarismo, enfim, a metamorfose do homem ainda pode nos levar, como está levando, ao colapso, ao desenvolvimento de elites políticas e econômicas, criando uma cisão entre homens e sub-homens, a melhoria da humanidade sendo ainda, nesta data, utopia plena.

Focar na dimensão humana é, portanto, um dever de todos, em seus pequenos universos. Daí porque a sigla que começa a tomar conta de todos os estudos e discussões sobre a empresa, uma célula motriz do andar da humanidade, e que reflete, como nenhuma outra, o conflito entre poder e impotência, colocando em contraste o homem proprietário e poderoso e o homem empregado, consumidor ou atingido de qualquer forma por sua atividade, tem que deixar de ser mera sigla para se inserir de vez no centro de tudo. Não sou eu, não é apenas um, somos mil multiplicado por bilhões, que estamos atentos. O passado, o presente e o futuro estão reunidos nessa significativa sigla ESG, exigindo uma tomada de consciência, decisões responsáveis e uma estratégia sempre em movimento. Nós, advogados, superamos o direito empresarial, agora, temos uma nova lei a desenvolver, e ela se chama ESG.

João Humberto Martorelli, advogado 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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