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A honra enorme de pertencer à Academia Brasileira de Letras

"A cada um dos amigos. Pelos gestos. Pelas rezas, tantas. Pelas promessas, a começar pelas de dona Lectícia. Para mim foram todos eleitos, imagino sintam isso por dentro. E devo mais diretamente aos agora confrades, Marcos Vilaça à frente, a honra enorme de pertencer à ABL". Leia o texto de José Paulo Cavalcanti Filho

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José Paulo Cavalcanti Filho

Publicado em 03/12/2021 às 6:05 | Atualizado em 04/12/2021 às 4:18
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A cada um dos amigos. Pelos gestos. Pelas rezas, tantas. Pelas promessas, a começar pelas de dona Lectícia. Para mim foram todos eleitos, imagino sintam isso por dentro. E devo mais diretamente aos agora confrades, Marcos Vilaça à frente, a honra enorme de pertencer à Academia Brasileira de Letras. Único pernambucano eleito, que morava no Recife, foi Mauro Mota. Só que, desde 22/11/1984, já não havia mais ninguém por lá. Uma escolha que é, também, homenagem a Pernambuco. Numa cadeira que tem nossa cara. Desde seu fundador, o pernambucano Oliveira Lima, para Gilberto Freyre o Quixote Gordo. Até o último ocupante, o também pernambucano Marco Maciel, para Gustavo Krause o menos imperfeito ser humano que conheci. Primeira pessoa com quem conversei, depois da eleição, foi Ana Maria. E fiquei tocado pela alegria que percebi, nas suas palavras generosas, ao me ver ocupando o lugar que um dia foi do marido.

Mas o que seria, exatamente, pertencer à ABL?, eis a questão. A resposta vem dos seus próprios estatutos (art. 1º), redigidos por Machado de Assis, "Defesa da língua portuguesa e da cultura". Um belo compromisso. Que defender "a língua" é, também, compreender novas formas de expressão em permanente processo de mudança, como a netspeach da internet; e aceitá-las, como decorrência natural da evolução dos tempos. É compreender, para além dos seus papéis de instrumentos de comunicação, que nada pode ser mais urgente, revolucionário e transformador, no Brasil de hoje, que educação popular. Tudo sugerindo o enorme dever da Academia em perseverar no esforço coletivo e contínuo de produzir cidadãos.

Já "cultura" exige visão mais ampla. Aceitar o passado, como sentimento de uma época; mas, também, reafirmar a crença de que somos capazes de construir um futuro melhor. Questionar os verdadeiros limites da globalização, como fundamento de nosso modelo de organização social; mas, também, integrar visões - o abstrato e o concreto, o pessoal e universal, o barro trágico das circunstâncias e o brilho mágico das estrelas. Respeitando a diversidade que conforma nossa existência; mas sentindo que podemos nos enriquecer com ela.

É sobretudo, por fim, dar sentido a nossa identidade como povo - conceitos, preceitos, preconceitos, práticas morais, danças, cantos, sabores, o grito de gol, o espanto, rezas, mitos, saudades, esperanças.

José Paulo Cavalcanti Filho, advogado

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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